A perdição dos meninos - por Eduardo Lima

Jornal O Norte
26/01/2007 às 10:26.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:56

Eduardo Lima *

Nossos jovens adolescentes são os maiores bandidos do Brasil. Os malfeitores são mesmo os meninos imberbes de que temos medo, basta acessar a fonte policial. Mas, porque seriam tão ferozes nossos meninos? Que serpente lhes picou? Foi o chicote que fez deles bichos? Ou será a dúvida sobre o futuro? A falta de expectativa é provável, ou a rua. A rua terá feito destes meninos personagens assim, tão inóspitas? Ou seremos nós os responsáveis? Os pais sem hora e sem senso, os bares, o que será assim tão doloroso?

As histórias inocentes que não lhes contamos mais. Terá sido este descuido o responsável pela perdição dos meninos? Ou foi a mão no rumo deles, a mão sem acenos, a mão com monstros na palma, a mão com drogas, dinheiro fácil? O que lhes atormenta tanto assim, pobres e perdidos meninos do Brasil? O que os torna hoje tão agressivos, jovens e cruéis bandidos? Terá sido a fome, ou será o exemplo? O mau exemplo. Será, digamos, a ausência de Deus?

É pouco para a análise. É simples demais. Bastaria, pois, erigir escolas e igrejas. Ou criar um exército de bons pais, capazes de atender meninos no choro. Pais que saiam e voltem. Pais que tenham calos nas mãos. Bastaria recriar o de maneira azul. Basta tocar o sino no final da tarde e reunir as crianças na praça central para ensinar coerência. Talvez fosse razoável recriar a benção e os ritos. Mais razoável seria contar de novo a história da mula sem cabeça. Mas nem mesmo algo que seja tão simples ou que seja a forja dos sonhos, nada dará vigor ao que agora carece de lei e punição.

Mas também as grades não seguram homens. Grades não seguram a fúria. Antes produzem o destemor. As grades induzem à fuga. E os jovens bandidos do Brasil, que somam a maioria esmagadora dos agentes do crime no país, estes jovens delinqüentes, massacrados pelo desencanto, saltarão das celas imundas para nos matar. Virão com cacos de vidro, virão com ferro, virão com ódio e com armas de grosso calibre. E saltarão sobre nós, os seus algozes, com a determinação dos que precisam matar.

Não é possível produzir o bem sem custo. O bem é caro. Por isso a sociedade há de amargar seus pavores juvenis e os meninos irromperão pelas ruas. Neste instante tem que ser assim; nossos jovens são os maiores bandidos, para que se instale a compreensão de que a dignidade deve ser para todos. Somente assim poderemos gerar gente boa, já que os meninos que hoje tratamos como se não fossem problema nosso serão, em breve, fantasmas nos pregando sustos. Ou se dá dignidade ao cidadão, aos pais dos meninos e aos meninos, o mínimo, o pão, o sabão, o esgoto e as horas de dormir, ou expiaremos a angústia de cães, desobedientes e ferozes, cujos dentes afiados virão estraçalhar a nossa carne.

A indicação de que os jovens são os maiores criminosos do país e vítimas preferenciais do crime, indica que é preciso estar alerta. E que cuidar dos filhos, tirá-los das ruas, afastá-los do crime, é oneroso dever. Cada menino que entra no pobre e falido sistema repressivo da justiça brasileira é um bandido encomendado, um adulto mau. Não há como salva-lo. Mas os governos, inflamados, ocupam-se em anunciar cadeias. Buscam o caminho mais curto. E logo se ocuparão em celebrar o castigo da morte; matar malditos para acabar com a maldição. Só que o mal continuará a ronda. O mal é mesmo assim; sorrateiro, incansável, vigoroso e, se visto sem profundidade, parece tão confortável quanto o bem.

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