*Manoel Hygino
A visita do papa Francisco ao Oriente Médio, no finalzinho de maio, não permitiu que evoluíssem discussões políticas visando à paz na região. Depois, uma outra reunião, no próprio Vaticano, a convite do pontífice, aparentemente tampouco resultou em progressos entre Israel e o representante dos palestinos.
No encontro em Jerusalém, Francisco e o premiê Benjamin Netanyahu tiveram em pauta um outro tema: em que língua Jesus teria falado, há mais de dois mil anos naquele pedaço do mundo. O líder israelense afirmou que “Jesus viveu aqui, nesta terra, e falava hebraico”. Reforçava, assim, a posição de vínculo entre judaísmo e cristianismo.
O pontífice, contudo, que para ali viajara para uma peregrinação celebrando a aproximação entre a Igreja Católica e a Ortodoxa (e não o judaísmo), teria corrigido o premiê, declarando que Jesus, na verdade, usava o aramaico.
Quem teria razão? Natanyahu observou, conciliador, que “Ele falava aramaico, mas conhecia o hebraico”. Segundo historiadores, Jesus viveu num período em que a língua corrente era o aramaico, embora o hebraico fosse utilizado pela população, especialmente entre as classes mais pobres. Diversos textos religiosos foram escritos nessa língua.
É um tema fascinante, mesmo na época em que as pessoas são atraídas a outros interesses. Ambos os idiomas caíram em desuso, no decorrer dos séculos. O hebraico foi revivido, no início do século XX, pelos esforços do sionismo, tornando-se posteriormente oficial em Israel. O aramaico é hoje falado em pequenas comunidades no Oriente Médio, como observei em meu pequeno livro sobre Jesus. O diretor de cinema Mel Gibson o utilizou na mais recente película sobre o nazareno.
Aramaico e arameano são sinônimas e se referem aos arameanos, tribos semíticas que habitavam o Aram, inclusive servindo para denominar as respectivas línguas, como verifiquei, no decorrer de uma partida de futebol da Copa. Aram é o nome bíblico da região designada posteriormente como Síria, sendo o principal Estado o reino de Damasco, que ao tempo de Salomão se engrandecera por conquistas sucessivas e constituía uma potência.
A língua dos arameus forma um dos ramos mais importantes entre as faladas pelos semitas. Na época de Jesus, era a língua vulgar da Galileia e Judeia como testemunham trechos dos Evangelhos. Na Idade Média, o judeu-arameu era cultivado como língua erudita, mas depois o neo-hebreu eclipsou-o totalmente.
O aramaico era falado pelo povo do tempo de Jesus e por ele próprio. O “Novo Testamento” foi escrito no “coiné”, grego popular, naquela época com numerosos hebraísmos e arameismos.
O aramaico foi um dos ramos mais importantes das línguas semitas. Do ponto de vista literário, era, ou é, muito inferior, porém, ao árabe e ao hebraico, segundo os estudiosos. Sua fonética é pesada, as formas gramaticais muitas vezes abreviadas. Faltam-lhe a finura de som que caracteriza o hebraico e a riqueza de formas do árabe.
No entanto, graças à difusão e ao espírito mercantil dos povos que o falavam, tornou-se o idioma internacional que serviu desse meio de comunicação entre os povos da bacia do Eufrates e do Tigre. Em decorrência, tornou-se restrita a pequenas comunidades do Oriente Médio.
Mas agora os estádios do Brasil terminam os jogos de hoje. Eu encerro também o comentário.