A integração pela língua portuguesa

Jornal O Norte
Publicado em 22/04/2008 às 16:46.Atualizado em 15/11/2021 às 07:31.

Bruno Peron Loureiro


Bacharel em Relações Internacionais pela Unesp



A língua portuguesa tem passado por transformações nestas últimas décadas que vão além do que habitualmente sofrem os idiomas e nos fazem questionar o lugar que ocupa e o espaço que cederá se o ritmo continuar assim. Equacionamos que a defesa deste patrimônio cultural somada ao estímulo à integração nacional resulta, desde um ponto de vista, na necessidade de preservação da língua portuguesa. É comum dizer que ela tem mais exceções do que regras e que ninguém sabe qual a próxima reforma por que passará, mas porta uma bagagem cultural imensa.



Herdamos um idioma bonito e rico de Portugal, um país pequeno da península Ibérica e pertencente à União Européia, antes esplêndido no período das descobertas marítimas e hoje deficiente em relação a esta comunidade, mas ainda debochamos de que tudo que é português relaciona-se com a burrice através de piadas, em vez de enaltecer as origens da nossa língua. No entanto, este nosso instrumento de comunicação difere tanto do português em gírias e sotaque, que há os que digam que o nosso idioma é outro, o “brasileiro”, para fazer uma contraposição.



Quando nos damos conta das apropriações atuais da nossa língua, a situação se complica: jovens que cada vez mais se comunicam com abreviações pela facilidade do uso na Internet (“você” se torna “vc”, “quando” se torna “qdo”), ou palavras estrangeiras no vocabulário cotidiano (ninguém diz “correio eletrônico” em vez de “e-mail” e são poucos os que se referem a “sublinha _” em vez de “underline _” quando há símbolos no endereço); pior mesmo é aceitar que cada vez mais lojistas empreguem o termo “30% OFF” em seus cartazes no lugar de “30% de desconto”.



A fluidez dos bens culturais na globalização traz um sentimento de liberdade que se concretiza nos usos que se têm da língua portuguesa, onde cada um se expressa como bem entender e de acordo com os códigos inteligíveis no país. Contudo, o que não podemos perder de vista é que a riqueza do nosso idioma oferece expressões próprias para termos forasteiros, e, mesmo quando recentes, logo temos nossa própria palavra acompanhando os novos avanços, ainda que seja no mutante campo da informática.



Esta sensibilidade nos permite valorizar mais o que é nosso e integrar melhor um espaço nacional cujas fronteiras se diluem gradualmente. Não deixemos esfacelar este grande patrimônio da língua portuguesa, que permite a aproximação das culturas mais distintas que compõem o Brasil: desde o maracatu nordestino ao chimarrão gaúcho, e dos afro-descendentes da costa aos indígenas do interior que se interessam em aprender o português e integrar-se como membros de uma única nação.

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