Ana Luisa Tomé *
A princípio eu jamais me imaginaria escrevendo o que quer que seja sobre uma ilha deserta. O motivo é bem óbvio: mais um tabu da nossa sociedade. Isto é, eu não conseguiria desvincular facilmente uma ilha deserta de suas conotações sexuais – muito embora sejam, no final das contas, conotações de nós mesmos. Entretanto, como que para me forçar a vencer esses meus tabus, o Délio (Pinheiro, colega de Orkut) me propôs um desafio: escolher, entre dezenas de livros já lidos, aquele que me acompanharia em uma ilha deserta.
É claro que um livro seria uma das últimas coisas a levar – qualquer que fosse a intenção -, mas eu fui desafiada, certo?
Um desafio assim, proposto pelo Orkut, é do tipo que nos faz adequar tempo e espaço: em pleno século XXI, há coisas em demasia que consideramos essenciais em situação tão esdrúxula. Tentei, no entanto, afastar esses pensamentos, receosa em receber o julgamento de capitalista: li a crônica no site do jornal O Norte de Minas e fui ver um DVD.
Por coincidência (se é que elas existem – e talvez existam em ilhas desertas), o filme era A ilha (The Island). Uma ficção com Ewan McGregor, situada no tempo de 2020.
Ali, naquele lugar, nada inóspito (e a ilha deserta?) e completamente utópico, em meio a computadores e tecnologias de todos os tipos, impera a modernidade em busca da vida longa e perfeita – tanto que ganhar na loteria significa ir para A ilha; um lugar imaculado, o paraíso.
Em momento algum, ou melhor, em cena alguma, qualquer personagem do filme cogitou a idéia de levar um livro. Nem mesmo Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, cuja história em alguns aspectos se assemelha àquele roteiro.
Eu só fiquei pensando: será que fiz a escolha certa? Será que Alcione (Araújo) seria uma boa companhia?
Dentre os conceitos explorados pelo filme, a idéia de que o paraíso – ou uma ilha deserta vista como um paraíso – não existe atraiu minhas reflexões. Se esse lugar não existe, talvez fosse mesmo mais compensador levar algum manual com instruções sobre como montar um avião (algo parecido com o que vimos em O vôo da Fênix) para sair dali – fugitivos do tédio. Mas eu ainda acho que me sairia muito bem com um livro tão humano quanto Nem mesmo todo o oceano.
A ilha deserta, enfim, seria só mais um pretexto, mais um detalhe de uma trama bem elaborada. Seria apenas um cenário – com ou sem nossas conotações. Um cenário do tipo que se tem em mente quando se quer fugir da vida real...
A volta, no entanto, é sempre certa.
E é isso que importa – sobretudo no caso de se ter escolhido o livro errado.
* Navegadora do Orkut