Dário Teixeira Cotrim
Há quem diga que a música de raízes não existe mais no meio artístico da cidade de Montes Claros. Que os grupos organizados deixaram para trás um rastro de muita saudade, sem ao menos a esperança de um dia removê-lo para o presente. Ledo engano de quem pensa assim. Pois quem já viu e ouviu Carlos Maia e Charles Boavista sabe até onde pode sustentar essa negativa sobre a nossa música de raízes. Apesar de o estilo catrumano ser cultuado por gerações diversas e além de ter influenciado alguns cantores solos, principalmente os artistas da noite com a inovadora concepção bem ao tipo harmônico-melódico, é fora de dúvida que a dupla maia y boavista vem conquistando um espaço nunca antes conquistado por nenhum outro músico montes-clarense. Devido ao talento intrínseco a maia y boavista, como intérpretes e músicos, é difícil agora imaginar que esse trabalho musical esteja sendo o último plano nas suas vidas, e que a amizade e a convivência deles sejam passageiras. Pois não será nem um e nem outro. O elo que une com brilhantismo os seus caminhos artísticos, este nunca será arrebentado por razões insignificantes.
Muito pelo contrário! O projeto desenvolvido por maia y boavista é uma grande oportunidade para o público se aprofundar no universo da música onde a batida do violão é que dita os novos rumos. É um agradável momento para resgatar a história de nossa terra, haja vista que muitas de suas faixas nos apresentam temas sobre o passado histórico da região. Com a participação especial de outros compositores, encontramos alguns nomes de peso como os de Ildeu Braúna, Téo Azevedo e Roldão Chaves que valorizam em muito o trabalho da dupla. Outros nomes, não menos importantes, também figuram neste mesmo elenco de artistas. Entre eles estão os de Haroldo Lívio, José Dias e Carlos Felipe. De modo que, se o álbum “a balada de Antônio Dó” ainda não é o sucesso esperado por maia y boavista, mas certamente que será um bom caminho percorrido para alcançar o fiel de suas composições futuras.
A despeito de tudo isso, a música contemplativa de maia y boavista não se pautará pelo exagero das coisas comuns, e sim pela multiplicidade de temas inerentes ao nosso sofrido sertão norte-mineiro. Sendo assim “a balada de Antônio Dó” é um exemplo inconteste de como se faz história com a música popular. Quem conhece a história do cidadão Antônio Dó, assim como o eminente historiador doutor Petrônio Braz, sabe que o mesmo “trocou muitos tiros/ muitas vezes suou frio/ defendendo uma verdade incerta” no ritmo melodioso das músicas e nas letras da poesia dessa dupla desacomodada. Portanto, essa é a verdadeira música que hoje as rádios tocam num desfile colorido pelos quatro cantos de nossa comunidade. Como é evidente: os aplausos não escondem os resultados positivos. As manifestações de carinho e de amizade por onde a dupla apresenta seus shows são as mais gratificantes possíveis.
O novo CD de maia y boavista intitulado “a balada de Antônio Dó” tem capa desenhada por Son Salvador, artista plástico que vem ilustrando os mais importantes jornais da capital mineira. Na fileira musical deste trabalho destacamos: “Colheita de Chuva”, de Ildeu Braúna e “Terra Brasilis”, de Téo Azevedo. Aliás, todas as faixas devem ser destacadas de afogadilho para ilustrar o estilo catrumano deste álbum. A discografia dos trabalhos musicais de maia y boavista compõe de dois CDs: “maia y boavista: edição especial”, de 2006 e “a balada de Antônio Dó”, de 2007. Com o famoso Grupo Raízes o cantor Charles Boavista produziu o álbum “Coletânea”. De Carlos Maia, como cantor solo, nós encontramos os seguintes álbuns: “Carlos Maia voz e violão – vamos falar do folclore”, “Carlos Maia, nos ventos da primavera” e “Carlos Maia: raízes de minas”. Neste último álbum, produzido por ele e Roldão Chaves, há uma homenagem especial a Simeão Ribeiro Pires e um poema de minha autoria que foi musicado. Sobre o blues urbano e rock suburbano de maia y boavista disse Luiz Carlos Novaes que o “panorâmico Boavista recortou o norte em sua obra, com a mesma precisão fotográfica que o bocaiuvense Maia fez sua junção nos vales do Jequitinhonha com o São Francisco”.
Certa vez estava um grupo de artistas conversando sobre músicas de raízes e a pergunta que se fazia, invariavelmente, foi a seguinte: Por que deixaram um movimento cultural tão importante desse desaparecer? A resposta agora está com maia y boavista.