A grande festa de vaquejada - por Walden Soares Eulálio

Jornal O Norte
29/01/2007 às 09:45.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:56

Walden Soares Eulálio *

Atento a tantas crueldades e violência do homem contemporâneo, resolvi pesquisar com imparcialidade e ampla veracidade, a vaquejada, como esporte do  vaqueiro norte mineiro. Gosto e crio animais. Desde criança já os defendia quando escrevia pequenas crônicas em páginas de ilustríssimos defensores dos animais, que como eu, só querem o bem dos mesmos. Fui surpreendido na minha pesquisa sobre esse esporte muito admirado pelo homem do campo, e entendi que ao contrário do que muitos pensam, os animais envolvidos na vaquejada, são muito bem tratados, bem cuidados, respeitados e queridos pelos vaqueiros. Existem normas de proteção aos bichos, criadas pelos vaqueiros, com regras bem definidas e com sanções para aqueles que as transgredirem:

1ª regra: É proibido bater ou maltratar o boi.

2ª regra: É expressamente proibido chicotear o cavalo, caso aconteça o vaqueiro será desclassificado.

Os bois são treinados para o esporte e pesam aproximadamente de 15 a 20 arrobas, sendo estes prontos para o abate em frigoríficos. Os cavalos são rústicos, treinados e muito bem cuidados. Os vaqueiros adoram os animais, pois são os mesmos que eles lidam no dia-a-dia na zona rural. Cheguei à conclusão que essa é a maior alegria do trabalhador do campo quando se trata de lazer. Não tem crueldade, maldade, barbárie ou flagelação, coisas que existem nos abates clandestinos feitos nas privadas da população suburbana, onde o boi é impiedosamente abatido a golpes de “olho de machado”. Crueldade existe quando os carroceiros colocam peso acima do limite das forças dos cavalos e os chicoteiam, mal-alimentados, desferrados, com pisaduras no lombo, de fazer dó. São cenas assistidas cotidianamente por todos que passam pelas ruas e nenhuma providência é tomada por quem é de dever.

Concluí também: como seria a vida do homem do campo se não pudesse colocar a carga em seus animais para as lides diárias? Uma canga de madeira no pescoço do boi para puxar o carro que busca a lenha para cozinhar? E o cavalo na carroça para buscar água no ribeirão? E assim, o homem do campo vê o boi e o cavalo também para aliviar suas tristezas da seca do sertão, na grande festa da vaquejada. O boi e o cavalo acompanham o homem desde os mais remotos tempos, em uma simbiose.

Concluí ainda que não podemos comparar as vaquejadas às antigas e até mesmo às atuais arenas espanholas, com a realidade do vaqueiro brasileiro, homem norte mineiro rural, sensível, que respeita e ama a natureza e os animais, pois vive deles e com eles. A vaquejada gera centenas de empregos diretos e indiretos para jovens do interior, vulneráveis às drogas e a marginalidade por falta de emprego, dedicam a esse esporte. Sinto que falta um pouco mais de respeito para com o homem trabalhador rural. Os humildes, principalmente os da roça, têm que ser ouvidos e compreendidos. Eles não são inconseqüentes, é só assentar na rodada de vaqueiros, conversar com eles que os entenderão. São sábios na sua simplicidade. As classes urbanas privilegiadas de lazer entenderão quando conhecerem o que é o esporte da vaquejada e como se processa. Não podemos abandonar nossas raízes, nossa cultura, nosso povo do campo, nossa realidade. Jamais privar do lazer àqueles que vivem no afã nobre de trabalho pesado, produzindo os bens indi


spensáveis aos que vivem nos grandes centros. Seria indispensável e necessário também ao trabalhador do campo; ele não é bicho homem, é gente que sofre, que luta sem ninguém para defender seus interesses.

Concluí finalmente  que a vaquejada é uma festa de exaltação ao boi, ao cavalo e ao vaqueiro. É um esporte barato que propicia lazer e incentivo àqueles que mourejam no campo, propiciando também técnicas para derrubar e ferrar, curar uma “bicheira”, tratar de um “gabarro” que só o vaqueiro entende. Não pode ser confundido com a farra do boi pelo homem da cidade. Devemos usar o bom senso, pois tudo depende do conhecimento sobre o assunto e dos olhos de quem vê. Vaquejada é o único esporte que une adversários: o boi, o cavalo e o homem. É um estilo de vida do jovem da roça que traz alegrias, sorrisos nos rostos cansados, queimados pelo sol.

Desenvolve sensibilidade, união e razão de viver na zona rural, privados do conforto da cidade. Eleva a auto-estima e o espírito de competição e valorização do homem sofrido e trabalhador do campo. É uma grande festa a vaquejada.

* Criador e defensor de animais

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