Luiz Carlos Amorim
Escritor e editor
Com o caos de escândalos que vem grassando no país, o que não é de agora, mas que vem se intensificando, a vergonha da vez chama-se cartões corporativos. Uma vez denunciado o primeiro cartão corporativo que havia gastado uma nota em despesas pessoais, muitos outros se lhe seguiram. Funcionários públicos e autoridades do governo que recebem um cartão para gastar com pequenas despesas de interesse da administração pública, gastam-no livremente, com despesas pessoais, sem a preocupação de reposição. A fundo perdido. O povo é quem paga. E isso, além de todas as mordomias que já existia.
E a defesa do nosso venerável presidente é que a adoção dos cartões corporativos foi um avanço na fiscalização dos gastos do governo, pois com eles seria muito mais fácil controlar e saber o que, onde e por quem foi efetuada qualquer despesa, inclusive pelo próprio cidadão comum, no Portal da Transparência. Ficou parecendo que a mensagem seria a seguinte: se o cidadão quiser conferir, que confira.
O que o presidente não disse é que ninguém (leia-se: o governo) que deveria estar fiscalizando estes gastos estava conferindo coisa nenhuma. Os cartões corporativos, como vem sendo comprovado na mídia, têm sido a festa de servidores e autoridades governamentais – e tem muita autoridade governamental que é político também, isto é, está cumprindo algum mandato -, que gastavam o que queriam e quando queriam, sem que ninguém lhes cobrasse qualquer prestação de contas, sem que lhe impusessem qualquer limite.
Estranho que um abuso assim seja defendido pelo governo, quando a saúde está agonizando nas portas dos hospitais, com cidadãos morrendo sem atendimento ou com atendimento precário, quando o governo não tem dinheiro para pagar salário de médicos e contratar mais deles, quando falta pessoal e viaturas na polícia para que tenhamos uma segurança pelo menos regular e por aí afora.
Só em 2007 foram 78 milhões de reais gastos com os cartões, e “especialistas” ainda acham que é pouco, que a outra modalidade de pagamento de gastos é ainda maior: 177 milhões. Isso tudo, sem sabermos o que realmente foi legal. E pelo andar da carruagem, sem qualquer fiscalização, muito pouco deve ter sido usado para o fim a que era destinado.
Seria bom saber como ficou o carnaval de cartões nestes dois primeiros meses de 2008.
Que dinheiro fácil, não, cidadãos brasileiros? E olhe que o regulamento do uso do cartão “corporativo” reza que “nenhum servidor público ou autoridade governamental, nem mesmo o presidente, pode usar o cartão para despesas de caráter pessoal”. Dinheiro fácil gasto à custa do pagamento sofrido, por parte do contribuinte, de uma das maiores cargas de impostos do mundo.