Meu amigo,
Aqui hoje venho, com sentimentos de muita tristeza. Esperei ansiosamente por este momento, já que vinha, há alguns dias, elaborando o que lhe diria aqui.
Passo, incondicionalmente, o meu tempo avaliando minhas experiências terrenas. E acho que hoje, com mais tranquilidade e serenidade, posso contribuir, dividindo meu aprendizado. Apesar de tudo, continuarei meu trabalho e agora buscando mais forças para tentar acabar com as injustiças que acontecem na terra.
Amigo: nós, seres humanos, possuímos uma visão de vida, de mundo, bem diferente do que ela realmente é. Escolhemos, como postura prática e comum, os caminhos mais fáceis e menos dolorosos.
Enxergamos a dor como um mero pesar, e nos desestruturamos frente às dificuldades. Enquanto tudo transcorre com tranquilidade, mantemos o controle. Mas quando os fatos configuram-se de maneira diferente daquela que planejamos e projetamos, sentimo-nos revoltados e castigados. Enxergamos apenas nossas dores; consumimo-nos em nosso egoísmo e colocamo-nos como vítimas de alguém ou de algo. Será, meu amigo, que não existe nenhuma relação entre aquilo que vivemos e nosso ser? Será que somos responsáveis pelo que passamos? E quanto o somos?
Eu diria que por tudo somos responsáveis, já que trazemos marcas em nosso ser que fazem parte de nossa essência. E esta é grande e nos acompanha desde que éramos o princípio da vida. Sabemos que isto é atemporal.
E a justiça, onde cabe?
Por que comigo?
E esta dor que me consome, que rouba minhas energias, por que não me ensina, por que não me deixa em paz?
Meu amigo, a justiça terrena é vil, é egoísta. Ela foi criada pelo desejo dos homens de acumular poder, de ser mais do que o outro. Mas, na verdade, em nome da justiça, sentimos, muitas vezes, a traição. Em nome da injustiça, sentimos a dor apenas sob um aspecto.
Quando vamos estabelecendo com nossas dificuldades uma outra relação, vamos percebendo o outro lado da dor. Vamos percebendo que ela exalta, que ela eleva, que ela faz evoluir.
Somente depois do sentimento da dor ter sido vivido profundamente, poderemos gozar as alegrias mais puras e reais.
Assim, amigo, posso hoje, através da experiência, da vivência profunda da dor, vir até aqui alertá-lo.
Vivam intensamente os momentos difíceis. Pois, nesses momentos, iremos nos conhecer e nos fortalecer, e assim, nos momentos de alegria, seremos serenos e plenos. Sentiremos a força daquilo que cultivamos e que é duradouro.
José Pereira Neto (Jucão)