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Domingo,15 de Setembro

A ciranda das pequenas almas

Jornal O Norte
19/08/2005 às 17:08.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:50




Raphael Reys *                                            




A coluna dos pequenos seres se formava sempre que a menina com a sua boneca de pano subia a trilha do Morro do Jason, até alcançar, no alto de um pequeno descampado, uma plataforma. Em 1995, entrevistei-a, juntamente com seu pai e o encarregado da fazenda, testemunhas dos fatos. Ela tinha, então, seis anos. Olhos grandes e brilhantes, era uma capricorniana cheinha, morena, cabelos cortados tipo pastinha. Seu semblante irradiava; parecia um pequeno anjo do Senhor!




Ela era a figura central dos fatos extrassensoriais, que aconteciam no morro; tinha também insigts nos quais prescrevia remédios de ervas naturais, para cura de males físicos.  Numa tarde, acompanhado dos três, escutei os relatos e percorri os locais onde ocorriam os fenômenos. O pai, buscando descobrir aonde tanto ia a menina, passou a segui-la, e a viu subindo o morro, com sua boneca pendurada pelo braço, e os pequenos seres, todos vestidos de branco, almas de crianças, que iam engrossando a fila, na medida em que ela subia o morro, rumo à plataforma.

 






Chegando no alto, formavam roda, cantavam e dançavam, brincavam de pega, de cabra-cega, a menina e os pequenos seres, almas vindas do mundo espiritual imediato.




Ao terminar a brincadeira, iniciavam a descida e a coluna, de maneira inversa, ia-se desfazendo. Na fazenda, havia uma construção antiga que fora usada como senzala, local de castigos de escravos, na era dos oito. Ora servia de depósito e havia sido usada também para trabalhos de mesa branca, onde o dono da casa, médium de incorporação, assim como o encarregado, incorporavam as almas dos escravos mortos por lá, naquela era distante, e que voltavam para serem doutrinados pelo cambono, o pai da menina.




Feitas a doutrinação e a desobsessão, as almas dos escravos eram levadas para as mansões espirituais, ou casas transitórias, como são chamadas nos meios espiritualistas. Todo o ambiente da fazenda emanava um ar de magia: a disposição dos acidentes geográficos, o córrego cristalino e borbulhante, com águas curativas, a plantação de cana-de-açúcar, a horta de plantas curativas. Ao trafegar pela propriedade, tinha-se a impressão de se estar sendo observado.




Aquelas crianças que apareciam no morro eram antigos moradores do local, da época da escravidão, e que haviam sido impedidos de brincadeiras e folguedos pelos donos da terra, e agora voltavam para brincar, acompanhando a energia mediúnica e ectoplasmática da menina da boneca de pano. Esta relatava que os cânticos das crianças eram feitos em dialeto Iorubá.  As pequenas almas voltavam para cobrar o que lhes fora negado.






Um elo transcendental com o passado distante/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"right">* Escritor







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