A bola de ouro

Jornal O Norte
11/08/2006 às 12:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:41

Raphael Reys

Sir Francis Bacon, em sua divina inspiração, legou-nos esta reflexão, a seguir descrita, em sua obra O progresso do saber, que serve para nos nortear na busca do conhecimento.

Pois os homens se tomaram de desejo de saber ou conhecimento, ora por curiosidade natural e impulso inquiridor, ora para excitar sua mente com vaidade e deleite, ora para honraria e fama, ora para obter vitórias de sagacidade e contestação e, as mais das vezes, para fins profissionais e de lucro. Raramente para fazer bom uso de sua faculdade de razão, em benefício e para a conveniência da humanidade. Como se procurasse no conhecimento um leito onde repousar seu inquieto espírito, ou um jardim, onde pudesse passear sua mente errática e volúvel, com algum objetivo medíocre; ou uma forte ou uma posição vantajosa, para luta e debate; ou uma loja, para vendas e lucro; e, não, um rico acervo para a glória do Criador e o alívio da humana condição.

Todavia, não me refiro, quando falo de uso e ação, àquele objetivo já mencionado, de aplicação do conhecimento para fins profissionais e de lucro; pois, não ignoro o quanto isso dispersa e interrompe a busca e o avanço do conhecimento, como na alegoria dos pomos de ouro atirados ante Atalanta, os quais fizeram com que ela se afastasse e parasse para apanhá-los, assim perdendo a corrida.

Mas, assim como os céus e a terra cooperam e contribuem para a conveniência e o bem estar do homem, assim o objetivo deve ser, tanto para a filosofia natural (ciência) como para a filosofia moral, de separar e rejeitar vãs especulações e tudo o que seja vazio ou infundado, e preservar e ampliar tudo o que seja fundamentado e fecundo.

Baudelaire ressalta que o homem quando busca essencialmente só o intelecto, sem o refinamento moral ou doutrinário, comporta-se como um albatroz no convés do navio. As suas asas são tão pesadas, que não consegue andar.

Sem a busca de natureza espiritual, o homem se enche de informações e se torna um ser responsivo, reflexo, reagindo apenas ao que foi codificado, não buscando dentro de si, no âmago, onde decerto encontrará a fonte primitiva, provinda da inteligência universal, e da qual ele também faz parte, pois foi por Deus criado.

Dotado de um corpo diáfano, o perispírito, veículo de expressão da alma personalidade, dotado de uma centelha, provinda do Criador, do qual emana, e donde se bem fizesse uso deste corpo espiritual, pode assim como faz todas as noites enquanto dorme: fora da peia do corpo, viaja pelo astral imediato, seguindo a linha de aderência das suas emoções, preso ao corpo, que ele mesmo criou para a sua alma, através do pensamento seletivo, da emocionalidade descabida, e do alimento excessivamente intelectual.      

O perispírito, veículo da alma, viaja premido pelo medo, pelo êxtase, em decorrência das anestesias operatórias, nos acidentes bruscos próximos a morte, por intuição, pela meditação, através da oração fervorosa e contrita, mergulhado numa sinfonia clássica, sempre buscando objetivos, conforme a sua tendência, e pelo quanto dos seus propósitos. 

Quando consegue viajar pelo Cosmo é a resultante da paz interior. Todos os benfeitores da humanidade passaram por essa experiência transcendental, todos foram aos céus, as fontes de inspiração primeira.

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