Rodinon Botelho dos Santos
“ Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultiva-lo” (Gn 2;15)
Logo no princípio da criação, vemos a importância e o valor do trabalho. Aqueles que desconhecem o texto bíblico da criação, acham que o trabalho foi uma conseqüência do pecado, da desobediência de nossos primeiros pais. Precisamos adquirir uma autêntica visão cristã deste assunto. O ser humano foi colocado no Jardim para cultivar, cuidar, se alegrar com a variedade da natureza vegetal e animal, e tirar também dali o seu sustento, através da vastíssima provisão do Eterno criador.
A história da humanidade através dos séculos é a história do desvio das intenções originais de Deus para o trabalho do ser humano. A avidez, egoísmo e ganância do coração do homem caído em pecado e transgressão, deu origem aos perversos esquemas de exploração existentes no mundo. Séculos atrás e ainda hoje em muitos lugares, mulheres e crianças são arrastados para o trabalho, em condições degradantes, vítimas indefesas dos que só pensam em acumular para si mesmos.
Neste terceiro milênio, encontra-se consolidado mundialmente o sistema capitalista totalmente direcionado para o acúmulo de riqueza, o crescimento exponencial dos lucros, a insaciável busca de mais dinheiro, mais poder, mais importância, mais domínio, etc. etc.. O maior aliado do capital, do negociante, do banqueiro, é o tempo – para se contar juros, para vender mais, para explorar mais. Assim, as chamadas horas úteis do dia já não bastam. Criaram-se os turnos que se sucedem, o trabalho que vira a noite toda, a eliminação do fim-de-semana, a utilização de domingos e feriados, as máquinas bancárias em operação ininterrupta, enfim – o chamado para produzir sempre mais.
Em meio a tudo isto, o ser humano, as pessoas são apenas detalhes. As estatísticas apontam todos os dias, doenças desconhecidas até então , provocadas pelo trabalho noturno, pela falta do necessário descanso do corpo. Milhares de pessoas avidamente se entregam a 2, 3 e até 4 turnos do trabalho constante. A justificativa é ganhar mais, ter mais, comprar mais, manter o “padrão de vida”. Nesta roda viva, quase ninguém é capaz de refletir e questionar este celebrado “padrão de vida”, que nos afasta da família, impede de ver os filhos, desliga da natureza, expõe a doenças , sobrecarrega de estresse, brutaliza e endurece o coração, invibializa os relacionamentos devido á extrema competição. É o antigo e terrível engano do TER se sobrepondo ao SER. E lá vamos todos nós, fazendo girar esta absurda roda viva das engrenagens do absurdo.
Jesus Cristo, o autor e Senhor da Vida nos adverte no Evangelho: “não andeis ansiosos por coisa alguma. O corpo é mais do que as vestes e a vida é mais que o alimento”. Cremos que ainda é tempo de abrir nossos olhos, de rever a caminhada, de rejeitar este estilo de vida desumano e egoísta, de ousar viver a verdadeira “contracultura”, posicionando-nos com gente, a favor de gente, voltando ao “jardim” na simplicidade e no amor de Cristo.