A batalha contra a fome, por João Guilherme Sabino Ometto

Jornal O Norte
17/01/2007 às 13:14.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:55

O enfrentamento do flagelo da fome, com a redução expressiva do número de pessoas que não ingerem a quantidade mínima de alimentos estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma das mais importantes Metas do Milênio, aprovadas pelas Nações Unidas em setembro de 2000. Apenas para lembrar, o Brasil é um dos 191 países que assinaram o pacto e estabeleceram compromissos compartilhados com a sustentabilidade do Planeta.





No entanto, é preocupante constatar que, na contramão dessa prioridade, as estatísticas indicam um quadro negativo. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) acaba de informar que o número dos que passam fome no mundo aumenta, a cada ano, em quatro milhões de pessoas. De acordo com esse organismo, cerca de 820 milhões de indivíduos não têm o que comer. Trata-se de número apocalíptico e paradoxal às Metas do Milênio.  


                    


Considerado esse quadro, é pertinente refletir sobre o alerta do diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, quanto à necessidade de se mudar a abordagem do problema, evoluindo-se para uma política mais eficiente. Dentre as suas recomendações, ele salienta que a economia mundial deveria funcionar mais a favor dos pobres. Uma das alternativas seria aumentar a contribuição paga pelos países ricos às nações subdesenvolvidas, a chamada Assistência Oficial ao Desenvolvimento, que é de 0,7% do PIB.





Essas recomendações, porém, ainda estão aquém da gravidade do problema. É necessário empenho imenso no sentido de mudar o futuro próximo, assustadoramente estampado nas estimativas da FAO: em 2015, quando o mundo deveria comemorar resultados positivos nas Metas do Milênio, deverão ser quase 600 milhões de pessoas com fome no Planeta. Mais da metade desse contingente de excluídos da prerrogativa básica da cidadania e da própria sobrevivência — alimentar-se — será concentrada no Sul e no Leste da Ásia, seguidos pela África Subsaariana. Caso o destino dessas pessoas não seja alterado por medidas eficazes, amplas e duradouras, está programado, com oito anos de antecedência, o estrondoso fracasso das Metas do Milênio quanto à alimentação.





Diante da gravidade do quadro, é interessante analisar a questão sob o aspecto da produção, que seria suficiente para alimentar o dobro da população mundial, caso devidamente distribuída. Claro que não é prudente ignorar as implicações econômicas do problema. Não adiante buscar um prisma utópico para a sua solução. O apoio e ajuda das nações desenvolvidas têm limites. É necessário, muito além da filantropia universal, buscar alternativas concretas, viáveis e passíveis de serem colocadas em prática em curto prazo.





Dentre essas possibilidades, uma boa tentativa seria reduzir o desperdício de alimentos, direcionando o resultado desse esforço, que representaria um ganho econômico, à mitigação da fome. No Brasil, segundo outro relatório da própria FAO, ocorre o desperdício de 26 milhões de toneladas de alimentos por ano. Este volume seria suficiente para alimentar bem 35 milhões de pessoas.





O desperdício, é importante registrar, não se limita ao universo dos consumidores. Ao contrário, sua maior parte, registra-se no processo entre a colheita e o armazenamento. Ou seja, há direta interface com os problemas de infra-estrutura, incluindo transportes e qualidade/disponibilidade da estocagem. O Brasil movimenta anualmente algo em torno de 1,2 bilhão de toneladas de carga. Por meio de um planejamento logístico eficiente e uma matriz de transportes equilibrada, poderemos reduzir os desperdícios e até os custos finais dos produtos.





A infra-estrutura do sistema de transporte de carga no País, tal como se encontra hoje, acarreta significativa perda econômica, incluindo o desperdício de alimentos. O tempo excessivo gasto no deslocamento dos produtos, perdas ocorridas pela precariedade do transporte, falhas na colheita e na armazenagem constituem-se em problemas sérios. A sua solução, que passa pela implementação prática das Parcerias Público-Privadas (PPPs), contribuiria muito para que o Brasil debelasse a fome em seu território e ajudasse o mundo a vislumbrar com melhores perspectivas as Metas do Milênio relativas à alimentação. 


 


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