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Quinta-Feira,26 de Dezembro

A arte do carinho no hospital universitário - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 24/10/2007 às 10:22.Atualizado em 15/11/2021 às 08:20.

Adilson Cardoso *


  


- É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã - Legião Urbana). 



É a apologia da doação, o respeito, a individualidade de cada ser tendo como referência um trabalho coletivo em que a humanização é a força norteadora. Chamado pelos usuários apenas de HU, a instituição, que é 100% Sus, promove diariamente situações para que o paciente se sinta acolhido e minimize a saudade que não respeita o momento da dor física que a patologia produz.



No pátio interno encontra-se uma tenda com muitas cadeiras em círculos, que promovem diariamente trabalhos manuais interativos com o cuidador e o usuário, às vezes só com bate-papos, celebrações e momentos musicais. Fora isso, os próprios pacientes usam-no para jogos de baralho, dominó, dama etc... Esse espaço mágico ainda conta com coqueiros, mangueiras, jabuticabeiras e goiabeiras. Que, com toda a plasticidade, atrai diversos pássaros que, numa orquestra exímia da existência, anunciam a chegada do dia com as mais belas alvoradas.



Por toda essa paz no meio das folhagens veio de longe, fugindo da depredação das matas, um casal de sabiás fazer seu ninho numa das mangueiras que, nesta época, sustenta seus majestosos frutos. O casal de sabiás chocou dois filhotes no aconchegante ninho que logo ficou pequeno para quatro. Em busca de liberdade, os filhotes tentaram voar, mas ainda sem asas suficientes, foram ao chão. Imediatamente, vários pacientes e servidores se mobilizaram para protegê-los. Era preciso também se proteger dos pais que, não entendendo as reais intenções, voavam baixo, buscando evitar a captura dos filhos.



Seu Natalício, que é o motorista, deu idéia de uma caixa com buracos para que os filhotes ficassem em segurança no galho, até obter condições de voar sozinhos, e ainda poderiam ser alimentados pela mãe, mas seu Ariosvaldo que é acompanhante da clínica médica, achou melhor uma gaiola onde ficassem presos ao lado do ninho. Assim, não correriam o risco de rejeição pela mãe, que estaria vendo-os e cuidando. O paciente Geraldo ficou cuidando dos filhotes até que o dono da idéia fosse ao ponto final do Major Prates buscar a gaiola. Os bichinhos hoje são patrimônio de todos. Cuidados e vigiados, aguardam o crescimento para a solene soltura.



Nos pés de grande parte das árvores há frases parabenizando-as pela passagem do dia 21 de setembro. Nos quartos, a motivação para a cura é visível, elogios dos pacientes pela forma de tratamento são estampados em folhas com caligrafia de diversos níveis, de simples garatujas a belos traços, expostos em painéis ao longo do nosocômio.



Raphael Reys, nosso ídolo no campo das crônicas e contos da Montes Claros de ontem, foi agraciado com esse calor humano quando dependeu dos serviços do hospital. Ali trabalha Mirna Mendes, poeta e performista, que atua nesse cenário místico construindo a esperança. Também ali tem o poeta Peninha, com suas quadras inspiradas; tem Gerinha, com sua também poesia social, atendendo nos balcões do pronto atendimento; e Ivone, com suas mãos mágicas construindo artesanato, dentre outros. Também não se pode esquecer Aldair Chaves, a técnica em enfermagem do centro ambulatorial, que é filha da escritora Amelina Chaves.



Lá tem o projeto cultural, que é iniciativa dos próprios servidores, apoiados pela diretoria, que tem como objetivo mostrar o talento do cuidador para o usuário.



Quem promove a vida também pinta e borda. E a escola pedagógica Ciranda da vida, que é aquela casinha encantada onde as crianças vão dar continuidade ao que estão aprendendo na escola, vão brincar, vão sorrir para esquecer aquela boba saudade que persegue também os pequenos. É incrível, mas lá o choro da criança quando recebe alta. Os pais acompanhantes têm direito a aprender profissão com as oficinas de artesanato da tia Lílian, todos os dias. Além de aprenderem a confeccionar, os pais também  aprendem a lidar com o lixo doméstico, selecionando de acordo o material, que pode se transformar em obra de arte.



Nesta semana, em que se comemora o dia do servidor público, parabenizo a todos pela imensidão de amor e calor eterno em prol da vida, eu que orgulhosamente faço parte desta família.



* Aprendiz de escritor

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