*Janaína Oliveira
Vovô é uma das pessoas mais apaixonadas pelo Brasil que conheço. E talvez esse sentimento tão profundo tenha deixado ele mais triste nos últimos tempos. Obras que não saem do papel, outras tantas superfaturadas, corrupção, egoísmo, descaso com a educação. Com dores pelo corpo e limitação para se locomover, meu avô já não sorria há algum tempo. Até que chegou a Copa. E com ela sua outra paixão: a Seleção Brasileira.
Desde pequenos, meu irmão, dois primos e eu, todos atleticanos, insistíamos para que vovô torcesse pelo Galo. Os netos não lhe deixavam em paz até que ele prometesse que iria torcer pelo alvinegro pelo menos naquela partida. “Sou brasileiro. Torço para a minha seleção”, costumava dizer.
Ele tinha apenas 22 anos quando o Brasil sediou a primeira Copa do Mundo. Naquele Mundial, o estádio Independência, apelidado de Colosso do Horto, foi o palco da derrota da seleção da Inglaterra para os Estados Unidos por 1 a 0, resultado considerado a maior zebra da competição. Na final, o Brasil perderia para o Uruguai de forma traumática. Numa família de 10 irmãos patriotas, quase um time completo de futebol, ele ainda se lembra daquela fatídica partida, que deixou estraçalhados seu coração e de toda uma geração.
Não que vovô tenha visto algum jogo pela TV, que só iria chegar aos lares brasileiros mais abastados no finzinho daquele ano de 50. Ouviu a narração pelo rádio, que seu pai quase quebrou ao final da partida, perdida pelos canarinhos para os uruguaios por 2 a 1.
Sessenta e quatro anos depois, vovô nem quer ouvir falar em zebra. Sua torcida é para que Scolari e seus comandados superem o rival na semifinal, que pode ser disputada no Mineirão, e de lá sigam firme rumo ao hexa, no mesmo Maracanã, embora agora todo reformado e descaracterizado até. Felipão, aliás, também será avô neste ano, e pela primeira vez. Será um menino, que, segundo o técnico, já chuta a barriga da mãe.
Vovô também torce pelo bisneto, projeto que insisto em adiar. Do alto de seus 86 anos, diz que já não sonha com tanta coisa. Mas deseja de verdade que o Brasil se consagre campeão da Copa 2014. Quer ainda que os brasileiros façam bonito, dentro e fora de campo. Nesse misto de esperança e entusiasmo, diminuiu o tempo das sonecas para acompanhar os jogos, passou a levantar mais cedo, está animado e com mais apetite. De camisa verde e amarelo, o craque da vida sorri para sua Seleção e para o Mundial no seu país.
