A 1ª Jornada - por Leila Silveira

Jornal O Norte
Publicado em 09/05/2008 às 17:08.Atualizado em 15/11/2021 às 07:32.

Leila Silveira



Seguramente, ao pé da letra, podemos afirmar com satisfação e pesar, que quem foi se encantou e quem não pode ir,  perdeu muito, ao (não) assistir a brilhante, comovente e instigante palestra deste verdadeiro guru moderno, Roberto Crema, vice-reitor da rede Unipaz, autor de vários livros, entre os quais “Saúde e Plenitude”, que foi o tema abordado com grande maestria e sensibilidade na iluminada noite desta última quarta-feira, fechando com louvor o 1º dia da “1ª jornada de Psicologia da Funorte”.



Buscando tentar “compensar” este irreparável lapso de quem não pode ter o privilégio da audiência, vamos aproveitar nosso modesto espaço para resumir a fala inteligente, provocativa e sedutora do autor, mencionando os principais tópicos e principalmente transmitindo sua mensagem principal de alerta, de contestação, mas também de muita esperança no futuro do Planeta e de nossa humanidade.



Crema resumiu, a partir de seu próprio exemplo e vivência, toda a evolução da psicologia, que como parte integrante do conhecimento humano, acaba também por traduzir toda a evolução da sociedade e do comportamento, nos diversos estágios de iluminismos e obscurantismos experimentados pelas civilizações que nos antecederam.



Assim, comentou sobre a importância do misticismo primitivo e o papel das religiões, nas primeiras colonizações, sua decadência e intolerância na Idade Média, dando condições para o florescimento da Ciência, da Racionalidade, da Arte, do Renascimento.



Esta abordagem reforçada após a Revolução Industrial Mecanicista, cujo sonho maior seria transformar os trabalhadores em meros robôs, começa a ruir justamente após a descoberta por Freud do “Inconsciente”, essa alteridade desconhecida e misteriosa, que insiste em nos acompanhar e na maioria das vezes a nos dominar...



De lá pra cá, a partir daí, e com contribuição veloz da era digital e da informática, que globalizou nossos avanços materiais e fracassos existenciais, caíram por terra todos os paradigmas, ficaram expostas todas as feridas, e sem respostas todas as perguntas...



Em termos psicológicos, que teve na “análise” e no divã, seus “anos dourados” e de muito “glamour” no século passado pós-Freud, assim como todos os outros modelos que o sucederam e complementaram, gerando uma série de “terapias” (algumas breves, outras nem tanto), o que se observa como tendência dominante, é uma espécie de retorno, de resgate daquilo que foi “abandonado” pela Ciência, daquilo que foi “corrompido” pelas religiões e fundamentalistas, daquilo que foi “execrado” e banido de nossos corações pelas “leis do Mercado”.



A proposta de Crema, a “cura” da doença que ameaça mortalmente nossa civilização, denominada de “normose” pelo autor, passa por uma retomada da abordagem holística dos fatos, do saber, do cuidar, do ouvir, do estar presente, do ser.



Sepulta em poucas palavras o mito da “especialização”, esta viseira “moderna”, com a qual estrategicamente os Senhores poderosos (diabólicos) passaram a controlar e distribuir o conhecimento, sem o genuíno e necessário entendimento (compreensão) do todo, que na sua visão só pode ser atingido com a inédita fusão da realidade (matéria) com o espírito (sagrado), capaz de transcender a imaturidade do “rebelde”, o racionalismo do “pesquisador”, a onipotência do “revolucionário”, a intolerância do “fundamentalista”, mas juntando tudo de bom que cada uma dessas correntes tem de positivo, buscando a essência e o núcleo, mas respeitando a singularidade através da  transdisciplinaridade.



Com uma abordagem holística, argumentação pedagógica, voz suave e questões abrangentes, sua fala antropológica consegue envolver e convencer a platéia de suas idéias e propostas, abrindo um caminho novo onde neuróticos, bipolares, deprimidos, angustiados e sofredores são percebidos em sua dimensão maior, em sua potencialidade curativa, onde indignados, rebeldes, inconformados e desajustados são acolhidos numa perspectiva esperançosa de mudança, num espaço onde há lugar para a dança dos animais, para a música da terra, para a sabedoria intuitiva, para o vôo da poesia, da arte, do encontro, onde céu e terra finalmente possam se aliar para o bem comum e humanização progressiva e eterna.



“Os princípios que norteiam seu processo terapêutico, são ensaiados e compartilhados, brincando com a platéia de uma forma tranqüila e carismática, ajudando na compreensão e “digestão” de seu revolucionário método, dos metaprincípios como atenção”, a “presença”, a “visão”, “o serviço”, em contraponto aos métodos atuais que não mais dão conta de deter a epidemia avassaladora, que acomete a todos nós, instaurando a surdez cínica, a crueldade mórbida, a passividade covarde, o suicídio consentido, a loucura instituída. São, segundo ele, vários os sinais da moderna doença de nossa sociedade e de nosso planeta, traduzidos nos “tsunames” devastadores, na devastação da Amazônia, nas guerras fundamentalistas, nas multidões de famintos e miseráveis da mãe África, nas “Izabelas”, no Brasil, no “11 de Setembro” e na mais recente crise capitalista nos EUA...



Na sua visão tudo está interligado, e nada deve escapar ao nosso olhar critico, ao nosso ouvido atento, à nossa capacidade de “estar com”, de compartilhar, à análise, à síntese, mas indo, além disso, integrando-as, tornar-se então capaz de escapar da “normose”, criando uma dialética vivencial, onde a questão central seja o ser humano, com todas as suas implicações.



A sua visão da psicologia habita então neste terreno etéreo, entre o concreto e o sonho, entre a criatura e o criador, havendo espaço para o encontro de ambos, só possível através da passagem, da transformação, da transcendência, da real experimentação do sagrado em nós!

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