Como amar e trabalhar hoje?

04/04/2020 às 00:01.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:11

Como será nossa vida após o anúncio do fim da pandemia do novo coronavírus no mundo? Muitos pesquisadores do cenário desta emergência sanitária global afirmam que haverá mudanças na forma de viver nas cidades cada vez mais digitalizadas, ocasionando uma descentralização da política e a valorização das experiências locais. Há alguns dias teve início o isolamento social, uma medida drástica de gestão de parte da população do mundo para evitar a disseminação do vírus. Como um grande número de pessoas está em suas casas há vários dias, muitos hábitos foram alterados repentinamente. Encontramo-nos confrontados com duas situações inesperadas: ficamos muito próximos de algumas pessoas queridas e irremediavelmente distantes de muitas outras. Hoje, tudo mudou, ainda mais, estamos acompanhando a queima de nossos planos feitos antes do aparecimento da doença Covid-19. O confinamento fez nascer um sentimento comunitário de solidariedade, de pequenos gestos de delicadeza e de generosidade. As dificuldades enfrentadas por tantas pessoas, e a necessidade de enfrentá-las agora, fazem com que cada um, como sujeito, responda com dignidade o que pode oferecer para que o outro encontre a sua maneira de lidar com o real impossível de suportar, temos que inventar novas possibilidades. No trabalho clínico do psicanalista de orientação lacaniana, que com sua escuta silenciosa constata que a fala tem diversos alcances, falar produz efeitos; se pode falar de amor, paixão, ódio, raiva, é inevitável o surgimento de momentos de angústia, de sentimento de culpa, da surpresa e do mal-entendido. Seguindo as orientações dos cientistas das autoridades sanitárias, o psicanalista teve que sair do espaço do encontro presencial no consultório entre analista e analisante para continuar enlaçado ao trabalho clínico através das redes sociais, guiado pelos princípios que norteiam a prática. Assim prosseguiremos com nosso modo de estarmos juntos, de fazer laço com cada sujeito que precise ou queira falar sobre este momento marcado pela angústia, pela solidão, pelo medo do desconhecido, pela esperança, pelo amor e pelo ódio. A escuta clínica permitirá que cada um possa viver com serenidade, coragem e sabedoria durante e após a pandemia. Possivelmente, diversos afetos e paixões estarão presentes na confrontação com este vírus. E no porvir, quando tudo passar, certamente teremos aprendido a demonstrar a nossa gratidão aos amigos, parentes e profissionais que não nos deixaram sozinhos, que se mantiveram presentes nas mensagens de carinho, de força, de coragem, de esperança e de fé. Jeannine Narciso

fragilidades emocionais
Coronavírus, o dia em que o mundo parou! Situação que nos forçou a nos isolarmos dentro de casa, a abandonar o ritmo alucinado do mundo lá fora, a isentarmos de condicionamentos e vícios sociais da sociedade moderna, como o consumismo desenfreado, relações afetivas, muitas vezes vazias e improdutivas, comportamentos autômatos e compulsivos. Enfim, o confinamento ultrapassou o sentido apenas de nos proteger de um vírus ameaçador que se alastra lá fora, pois denuncia o quanto somos vulneráveis e frágeis e o que é mais grave, estamos perdendo nossas verdadeiras identidades, singularidades. Somos corpos materiais, substanciais completamente vazios de sentido, somos meramente presenças de ausências! Estamos literalmente “vazios de nós mesmos”. Diante dessa trágica realidade, só nos resta uma única saída: sermos verdadeiros artistas e aprendermos a criar a mais importante e verdadeira obra de arte – nós mesmos...

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