O Rei do Baião – Luiz Gonzaga Nascimento

28/01/2022 às 00:24.
Atualizado em 30/01/2022 às 01:07

Quando eu era menina, ouvia muito rádio e também as músicas dos discos de vinil que meu pai colocava no toca–discos (nós não tínhamos a vitrola nem a radiola). E ali, vários discos, um sobre o outro, mais ou menos dez, e automaticamente quando acabava uma música um dispositivo se movimentava, o próximo disco descia. Em cada disco tinha uma melodia de um lado e outra do outro: lado A e lado B.

Foi aí que conheci e convivi com Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Ali nós nos entretínhamos horas e horas ouvindo aquele nordestino pernambucano a cantar suas composições. A bem da verdade nós doutrinávamos a vizinhança ao som de Luiz Gonzaga.

Luiz Gonzaga nasceu em Exu, Pernambuco, filho de seu Januário e de dona Santana. Nasceu em 13 de dezembro de 1912. Estudou as primeiras letras, serviu o Exército num período de dez anos, mas o sonho dele era ter uma sanfona, era ser sanfoneiro. Um dia, ele foi presenteado com uma pelo Sinhô Aires. Luiz começou a tocar e, muito encantado, foi-se desenvolvendo como um autodidata para tornar-se o grande sanfoneiro que foi e fazer da sanfona a sua logomarca. E ele não foi somente um sanfoneiro, mas também compositor, músico e cantor. 

Amante da natureza, ele cantou o sofrimento da flora e da fauna defendendo a ecologia com o Xote Ecológico: “Não posso mais respirar; Não posso mais nadar; A terra está morrendo...”

Asa Branca, que se tornou o Hino Nordestino, desperta-nos para a grande seca de 1915, descrita por Raquel de Queiroz no seu livro “O Quinze”. Na Toada Asa Branca lemos assim: “Quando oiei a terra ardendo ;Qu’a fogueira de São João; Eu preguntei a Deus do céu, ai ; Pruque tamanha judiação...”.

Defendeu as mulheres valorizando-as através de suas composições e no exercício de sua cidadania. Gonzaguinha foi filho adotivo de Luiz Gonzaga, quando ele conheceu a dona Odileia Guedes, ela já estava grávida, mas Luiz a assumiu e amou o Gonzaguinha como um filho legítimo.

A memória deste ilustre sertanejo pernambucano foi registrada por ocasião do seu centenário de nascimento em dezembro de 2012 pela Prefeitura de Recife com uma grande celebração com o lançamento do selo postal e relançamento do livro “O Sanfoneiro do Riacho da Brígida: vida e andanças de Luiz Gonzaga – Rei do Baião”, do escritor Sinval Sá, com edição da Companhia Editora Pernambuco (Cepe). 

Luiz Gonzaga cantou a vida e a cultura nordestinas de maneira insuperável! Responsável pela valorização do baião, do xote e do xaxado em todo o Brasil. Deixou uma herança incontestável e foi um dos maiores ícones da história artística brasileira.

Luiz Gonzaga não foi só o Rei do Baião, não!!! Ele foi o rei da construção de uma história que o mundo inteiro cantou e ainda canta. Preservou a sua própria identidade, através de seu povo, do sertão nordestino, da luta e da dificuldade, ensinando como superar os desafios com dignidade, com perseverança, com verdade e honestidade em tudo. 

Esta é a história que todos devemos conhecer, aprender e contar para as gerações futuras. Cordel Luiz Gonzaga – homenagem pelo seu centenário de nascimento: Ronaldo Dória; Globo Repórter 1989, logo após a morte de Luiz Gonzaga em 2 de agosto de 1989.

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