O Brasil é um país tradicionalmente conhecido por sua profunda adesão em todas campanhas de vacinação. Assim conseguimos nos tornar referência mundial, desde os governos militares, por ousados programas que passaram a atingir os mais distantes pontos do território nacional. Erradicamos doenças, protegemos nossa população e asseguramos menor pressão em nosso sistema de saúde.
Porém, vivemos tempos estranhos. Alguns trocaram a ciência pelo obscurantismo e a razão pela cegueira política. Possuímos um presidente que negou a pandemia, criou uma série de obstáculos para as vacinas chegarem ao braço dos brasileiros e, por fim, atrasou a chegada dos imunizantes para as crianças. O Brasil vacina apesar de Bolsonaro, uma realidade que envergonharia qualquer líder mundial, mas que enche o presidente brasileiro de orgulho.
Tudo indica, entretanto, que o Brasil é maior que Bolsonaro – e muito mais inteligente, vale ressaltar. Enquanto o presidente segue liderando uma seita, o resto do país optou pela razão e pela ciência, repetindo os altos níveis de vacinação tradicionais. Com praticamente 167,3 milhões de vacinados, temos 78,4% da população que já iniciou o processo de imunização e 68,6% com as duas doses. Entre o bolsonarismo e a ciência, o povo brasileiro já fez claramente sua opção pela razão.
A mais nova vítima do coletivo negacionista de Bolsonaro são as crianças. Enquanto o mundo vacina menores há meses, pais brasileiros influenciados pela insana narrativa antivacina preferiram deixar de imunizar seus filhos. Felizmente, a retórica do atraso fica restrita aos poucos que enxergam virtude em discursos vazios de um populismo que esconde um simples movimento político eleitoral.
As vacinas salvam cerca de 3 milhões de vidas por ano no mundo. A eficiência de todas as vacinas em circulação tem sido demonstrada pelas 1,15 bilhão de pessoas imunizadas totalmente no mundo até o momento. A vacinação em massa é responsável pela erradicação de uma série de doenças, mas, para isso, é necessário imunizar uma parcela significativa da população. É preciso termos em mente que a vacinação é sempre um ato coletivo.
O Brasil é um destes grandes exemplos. Apesar de vivermos hoje o eclipse de nossa presidência, nosso país mostrou que nossa tradição vacinal é mais forte do que os delírios daqueles que não dialogam com a razão. Vacina é o passaporte para a vida. Nada pode ser mais importante do que isso.
*Márcio Coimbra é presidente da Fundação da Liberdade Econômica. Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal