Sonho desfeito: a falta de rampa de acesso ao teatro do Centro Cultural limita participação do público

Jornal O Norte
Publicado em 31/07/2006 às 10:16.Atualizado em 15/11/2021 às 08:40.

Samuel Nunes


Repórter


samuelnunes@onorte.net



Era para ser apenas mais uma quarta-feira na vida do deficiente físico Vilson José de Jesus, 37 anos, que adora passear no bairro Alto São João onde nasceu e foi criado. Ele também gosta de desenhar e por amor à arte, resolveu neste dia, a convite de amigos, visitar a Mostra de Teatro, que acontece no Centro Cultural desde o dia 10 de julho.



Vilson José conta que se sente indignado da forma como o deficiente físico é tratado na cidade e no país como um todo


(foto: Wilson Medeiros)



Surpreso, como ele mesmo disse, acabou se tornando o protagonista do espetáculo, mas de forma totalmente negativa. Não por sua culpa, mas pela falta de um olhar das autoridades para a condição das pessoas portadoras de necessidades especiais.



- Fui convidado pelos artistas do espetáculo daquela quarta-feira, dia 22. Me arrumei e saí feliz da minha casa, pois gosto muito de passear e era a primeira vez que ia ao teatro, diz.



DECEPÇÃO



Mas a alegria de Vilson durou pouco.



- Para assistir à peça tive que ser carregado por algumas pessoas até o teatro, pois na quinta maior cidade de Minas Gerais alguns locais públicos não possuem rampas para deficientes, o que é um absurdo. Até cheguei ao saguão do centro cultural, que possui rampa de acesso, mas para descer até o teatro não foi possível porque o único acesso é uma escada em espiral. Tive de ser carregado, desabafa.



Vilson José conta que se sente indignado da forma como o deficiente físico é tratado na cidade e no país como um todo. Ele critica de maneira veemente o fato de não ter no centro cultural uma rampa na entrada do auditório.



Maria Cândida, mãe de Vilson, conta que quando ele tinha sete meses de vida, sofreu de  meningite e perdeu a mobilidade nas duas pernas, tendo que usar cadeira de rodas para se locomover.



- Ele é muito importante para mim. Fico triste quando as pessoas o tratam com preconceito, diz.



SEM ESPERANÇA



Vilson se diz decepcionado com o que aconteceu e afirma não ter esperança de que as autoridades do município criem leis que supram as necessidades do portador de deficiência física.



- Dói muito em mim este tipo de situação, dói demais ficar dependendo de outras pessoas para fazer determinadas atividades que poderiam ser facilitadas se a cidade tivesse estrutura para nós deficientes, diz.



Vilson conta que numa certa ocasião ele teve que se dirigir até a policlínica Alfeu de Quadros para consultar quando sentiu vontade de ir ao banheiro e, para sua surpresa, lá não tinha banheiros próprios para deficientes físicos. Ele lembra que teve que esperar o momento da consulta para depois usar o sanitário em sua casa.



Ele diz que em muitos locais públicos da cidade como bancos, lanchonetes e principalmente ônibus coletivos, o deficiente tem dificuldades para freqüentar.



- Outro desrespeito cometido contra nós é praticado por alguns motoristas. Particularmente, tenho dificuldades de andar na minha cadeira de rodas por algumas ruas do centro da cidade, diz.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por