Ritmo lento da vacinação deixa crianças vulneráveis à Covid

Márcia Vieira
Publicado em 08/02/2022 às 09:16.
SEGURANÇA – Vacina é essencial para crianças e adolescentes voltarem às aulas (arquivo pessoal)
SEGURANÇA – Vacina é essencial para crianças e adolescentes voltarem às aulas (arquivo pessoal)

Desde o início da pandemia, em março de 2020, 89 menores de 10 anos – 48 bebês e 41 crianças de até 9 anos – morreram após serem contaminados pelo coronavírus em Minas. Outros 70 jovens, de 10 a 19 anos, também foram vítimas da enfermidade.

Os dados são considerados preocupantes pelo secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, que alerta para o fato de que, apesar da doença ser menos letal em crianças, a maior arma para evitar as mortes é a vacina.

“Certamente, se essas crianças estivessem imunizadas, não morreriam. As chances são muito menores”, ressalta. O gestor ainda deixou um recado para os pais que não levaram os filhos para receberem as doses e que são contrários às vacinas: “O que temos que fazer aqui é esclarecer. Esqueçam as fake news. A vacina é eficaz e é a segurança para a gente sair dessa pandemia”, orienta.

Apesar do aumento de casos da Covid no Norte de Minas e em Montes Claros e da volta às aulas – que aumenta o risco de exposição das crianças à contaminação –, o número de meninos e meninas com a primeira dose contra o coronavírus é pequeno.

Na região, menos de 13 mil crianças de 5 a 11 anos foram vacinadas, o que equivale a 13,3% do público-alvo. E a região já recebeu mais de 42 mil doses – ou seja, a baixa cobertura não tem a ver com a falta de imunizantes.

Em Montes Claros, o percentual é ainda menor: das 43.136 crianças de 5 a 11 anos aptas a receber a proteção, apenas 4.176 já estão com a vacina no braço – o que equivale a 9,68% do total.

Viviane Sanches é mãe de Henrique, de 11 anos, e de Letícia, de 4. Ela não vê a hora de a filha completar 5 anos para receber o imunizante. “Ela faz 5 anos em julho e, assim que tiver a idade, vou levar para vacinar”, diz.

Ela chegou a ser aconselhada por um profissional de saúde a não vacinar, porém, em meio a uma ação do colégio estimulando a vacinação, ouviu de uma outra profissional amiga sobre a importância da proteção e optou pela segunda opinião.

“Eu fico sempre muito emocionada de vacinar meus filhos. Sempre foi assim. O cartão de vacina deles é completo. Fico feliz em proporcionar isso e, contra a Covid, não foi diferente. Eu e meu marido conversamos, somos a favor. Do jeito que a tecnologia e a ciência estão avançadas, eu acredito na vacina sim. No grupo de mães da escola tem uma pediatra e ela também nos incentivou”, conta Viviane.
 
MAIS SEGURANÇA
Mayounara Barbosa é mãe de três filhos, de 11, 13 e 14 anos. Agora, com os três vacinados, diz que se sente mais segura para que os filhos retornem às aulas. 

“Eu já havia tomado a vacina e isso fez com que eles ficassem tranquilos. Não houve resistência e eu entendo que é um cuidado com a gente e com o outro. Em nenhum momento pensei em não vacinar”, afirma.

Já Ana Paula Gama diz que prefere esperar mais um pouco. “Eu sou bióloga, acredito na vacina, me vacinei, mas eu ouvi alguns médicos e optei por não vaciná-los agora. Eles vão retornar à escola, visitam a avó, mas por enquanto usamos máscara, álcool e reforçamos a alimentação para melhorar a imunidade. Estou vendo crianças e adolescentes não reagindo bem e prefiro esperar mais um pouco”, diz ela, que é mãe de dois filhos, de 15 e 11 anos.
 
NOVO FOCO 
A pediatra Oriana Vieira Carneiro Brant destaca que, segundo informações das sociedades Brasileira de Pediatria, de Infectologia e de Imunização, é que essa fração da população, que é a pediátrica, e a de pessoas que fizeram opção por não vacinar passaram a ser foco do vírus, principalmente da Ômicron, de altíssima transmissibilidade.

Mas, para ela, quem tomou a vacina está mais protegido, com duas ou três doses, e esse paciente não evolui com gravidade. Já a criança que não tem nenhuma proteção apresenta mais chance de contrair a Covid e evoluir para quadros mais importantes, assim como os não vacinados.

“A cada cinco pessoas internadas, quatro são os que não receberam nenhuma dose ou estão com esquema atrasado”, diz a médica. Ela argumenta que alguns pais ficam temerosos porque recebem mensagens sobre efeitos colaterais da vacina, mas essas mensagens não têm respaldo científico e as entidades responsáveis emitem dados de que as vacinas têm um perfil de segurança muito grande. 

“Tenho trabalhado muito com meus pacientes sobre essa situação, porque é preciso vacinar para fazer o controle da pandemia. Tem quadros importantes, como a síndrome inflamatória multissistêmica que compromete a criança que evolui para forma grave da Covid. Já chegamos a perder cerca de 2 mil pessoas na faixa etária pediátrica por conta de doenças em consequência da Covid-19, sem contar a Covid longa, que pode deixar na criança distúrbio de memória, de sono, de concentração”, pontua.

Em Montes Claros, menos de 10% dos meninos e meninas de 5 a 11 anos já receberam a primeira dose; Estado soma 89 mortes de menores de 10 anos

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