As mulheres montes-clarenses em situação de privação de liberdade também tiveram atividades relacionadas ao Dia Internacional da Mulher. Na última quarta-feira (8), as detentas do Presídio Alvorada, localizado no bairro Jardim Alvorada, receberam a ação “O Esperançar é Real”, organizado pela Aliança Nacional LGBTI+ com apoio da Secretaria de Saúde municipal. 

Em diálogo com essas mulheres, uma das organizadoras do evento, a coordenadora da Aliança, socióloga e mestranda em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Letícia Imperatriz, conta que acredita não ser possível usar a palavra “comemoração” na efeméride da semana. 

“Hoje, o nosso evento vem para este espaço, justamente para trabalhar a questão da humanização. Com pessoas que sabemos que geralmente no contexto histórico de violência, de abuso, de abandono e de segregação, acaba ficando à mercê da depressão, das possibilidades de não envolvimento com outras pessoas”, ressalta Letícia.   

Recomeço 
Entre idas e vindas do sistema prisional, a detenta de 31 anos, Jéssica Antunes Souto, tenta responder o questionamento feito pelo evento em relação a esperança. 

“Não sei se vai soar de forma poética, mas eu me vejo como um diamante, porque entrei bruta, revoltada da vida, que só pensava em destruição e achava que ia sair daqui pior. Mas, com o passar dos anos, sinto que fui moldada como um diamante e hoje me sinto transformada com expectativas boas para o futuro”, conta Jéssica. “O meu desejo, hoje, a minha esperança hoje, é ajudar as mulheres que estão na minha mesma situação. Então, tenho esperança de quando sair daqui procurar me capacitar para poder voltar aqui, mas para contar o meu testemunho e contar para elas como, a minha vida mudou a partir daqui. Porque na vida, para grandes mudanças é necessário, grandes desastres. E na minha vida não foi diferente, tive que passar por tudo isso e entrar em desespero para me ver recomeçando e hoje me vejo um diamante já moldada pronta para a nova etapa da minha vida e colocar em prática os meus sonhos”, conclui Jéssica cheia de esperança. 
 
“Esperançar”
O evento contou com atividades de cunho cultural, educativo e de saúde. Com o apoio da Secretaria de Saúde de Montes Claros, foi realizado de testagem de glicemia, aferição de pressão e testagem rápida para verificação de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s), além de um diálogo com a professora da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Daliana Antônio, com a psicóloga, Camila Figueiró, e Leticia Imperatriz.

“O Dia Internacional das Mulheres é resultado de lembrar das opressões, das violências muito específicas que as mulheres sofrem. Mas, a gente precisa saber que é possível não só sonhar, mas também podemos ‘Esperançar’”, conclui a professora Daliana.

Liberdade, uma questão social

Em Montes Claros, o número de vagas oferecidas atualmente nos presídios da cidade é de 1.073 gerais; destas, 42 são femininas, informou a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). No entanto, atualmente, o presídio Alvorada está com lotação de 70 detentas, conforme informação da apoiadora das equipes prisionais da secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, Alaíde Pereira Silva. Dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) mostram que o Brasil ocupa a quarta posição no ranking dos países com a maior população carcerária feminina do mundo. O perfil dessas reclusas é o de mulheres jovens, mães, provedoras do lar, com baixa escolaridade e, em sua maioria, negras. 

A Sejusp ainda informa que no Presídio Alvorada 50% das detentas possuem pele parda, 22% possuem pele preta e 15% pele branca. A faixa etária predominante está entre 35 e 45 anos, representando 30% das presas. Já os principais enquadramentos são por tráfico de drogas, 10%; em seguida vem homicídio, roubo e furto, dentre outros.

Em relação ao número excedente de detentas, até o fechamento dessa edição, O NORTE não obteve resposta. 

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