Samuel Nunes
Repórter
samuelnunes@onorte.net
Eram 3 horas da tarde quando a reportagem de O Norte chegou à casa da comunidade Rainha da Paz, distante aproximadamente 20 km do Centro de Montes Claros. Na entrada percebe-se um ar diferente e, em uma área de aproximadamente três mil metros quadrados, o que se vê é muito verde e jovens e adultos trabalhando literalmente para se reintegrarem à sociedade e, conseqüentemente, a suas famílias.
Trabalho é uma das principais terapias na comunidade
dos ex-viciados (fotos: Wilson Medeiros)
A comunidade Rainha da Paz é uma entidade sem fins lucrativos ligada à igreja católica e que tem como missão trabalhar na recuperação de dependentes químicos e alcoólicos. Um dos ex-viciados em maconha conta detalhes da vida que levava. A.A.F. tem 18 anos e começou a fumar a erva aos 14, por influência de amigos da escola onde estudava:
- Durante dois anos, eu fumava aleatoriamente e, depois desse período que durou mais dois anos, eu fumava maconha todos os dias.
No rosto de sua mãe é visível a alegria e, ao mesmo tempo, a emoção de ter um filho que se libertou do vício. M.B.F.M. lembra das brigas violentas que envolveram seus filhos e outros conflitos que existiam nesse difícil período de sua vida. Tudo em decorrência da droga. Ela diz que quando A.A.F. começou a mexer com droga, ela observava o comportamento dele, que mudou de maneira substancial naquela ocasião. Conta que seu rendimento escolar era baixo e que dormia praticamente o dia todo, sendo que, à noite, saía para a rua:
- Não aceitava até então que meu filho fosse um dependente químico, mas, observando o seu comportamento, percebi que a coisa era séria, e procurei ajuda aqui na comunidade Rainha da Paz.
Outro fato marcante na conversa de quase 1 hora que a reportagem manteve com A.A.F. foi uma frase que ele diz:
- Paguei caro ser tratado em um meio social com pessoas que nunca tiveram contato e de culturas diferentes; foi muito difícil. Antes, faltava algo em mim, esse algo é Deus, e fui procurar nas drogas.
Já tem seis meses que A.A.F. está internado na comunidade Rainha da Paz e daqui a três meses deverá sair. Sua mãe espera que, quando ele chegar lá fora, possa ser diferente.
Mãe conversa com ex-drogado: nova vida
OUTRO EXEMPLO
Gilberto Norberto Batista é outro exemplo de determinação e de vontade de melhorar de vida. Ela conta que perdeu quase tudo na vida em decorrência da bebida alcoólica. Hoje, ele é coordenador de triagem da comunidade Rainha da Paz:
- Hoje, eu estou bem com a minha família, eu era um problema para eles, me entreguei completamente à bebida.
Gilberto afirma que os internos não ficam com o tempo ocioso na entidade. Eles seguem uma disciplina importante como, por exemplo, despertam às 06 horas da manhã e tem um dia recheado de atividade, como trabalhar com artesanato, na horta e na cozinha, e limpeza do espaço onde moram. Às 10 horas da noite, eles têm que dormir para começar novamente um novo dia na recuperação de algum vicio, seja ele de drogas ou álcool. Essa recuperação é feita, de acordo com Gilberto, através de terapia ocupacional, oficinas de artesanato, trabalho nas hortas e na parte espiritual. Ele e outras pessoas com quem O Norte conversou entendem que um dos caminhos para a recuperação de usuários de droga e álcool seja a religião.
VITÓRIAS X NECESSIDADES
O fundador da Rainha da Paz, Antônio Claret, que também é um ex-dependente químico, explica que essa entidade é a única que atende adolescentes que são dependentes químicos na cidade, e que há sete anos vem desenvolvendo esse importante trabalho de inserção social. Atualmente, são duas fazendas e uma casa; ao todo são 60 pessoas internadas, sendo que, de acordo com Antônio Claret, o índice de recuperação é de 60% dos casos, o que é um dos melhores índices do estado e do país. Lembra que têm 40 pessoas na fila de espera para também se internarem na comunidade.
Antônio Claret afirma que a comunidade é a única no estado de Minas que atende 75% dos internos de forma gratuita; os outros 25% contribuem com a quantia de R$ 150, por mês. Outro ponto lembrado por ele é quanto às necessidades básicas enfrentadas pele entidade. De acordo com ele são pagos por mês R$ 800, de aluguel, incluindo água e luz da área, sendo que a despesa geral das duas fazendas e do escritório localizado no centro da cidade fica em torno de R$ 8 mil.
A comunidade, segundo seu fundador, necessita também de terapeutas e psicólogos voluntários que queiram somar no projeto. As pessoas interessadas para internamento ou mesmo para ajudar nas necessidades da Rainha da Paz devem ligar para 3224-2309 e falar com Acácia ou Fabiana.