São mais de sessenta mil cães, quantidade além da permitida pelo ministério da Saúde. O problema é que apenas 24 mil deles foram submetidos a exames com coleta de sangue
Samuel Nunes
Repórter
O sanitarista da Funasa - Fundação nacional de saúde e coordenador municipal de controle da leishmaniose, Luiz Osamane diz que a região do Norte de Minas é endêmica, pois ainda não conseguiu controlar a doença que popularmente é conhecida como calazar. Ele explica que todo o trabalho é feito a partir de um projeto de intensificação das ações de controle da leishmaniose visceral na cidade.
Limpeza dos quintais e lotes vagos evitam a reprodução do mosquito palha, responsável pelo calazar em cães e no ser humano (Foto:Wilson Medeiros)
– O trabalho consiste no controle vetorial que é a aplicação de inseticidas em áreas consolidadas de transmissão intensa e moderadas.
Luiz Osamane diz que a cidade foi dividida em 19 setores sendo duas áreas de transmissão intensa que compreendem os bairros Morrinhos e Vila São Francisco de Assis e os seus entornos. Cinco áreas de transmissão moderadas que são os conjuntos Joaquim Costa e José Carlos de Lima, bairros Esplanada, Edgar Pereira e Camilo Prates e os seus entornos, e mais doze áreas de transmissão esporádica que se compreendem como o restante da cidade.
CONSCIENTIZAÇÃO
De acordo com o sanitarista, o trabalho desenvolvido pelo Centro de controle da leishmaniose na cidade, é feito seguindo três itens: borrificação, que é a aplicação do inseticida, inquérito, a retirada do sangue da orelha do cão, e o manejo ambiental que a limpeza de lotes vagos, úmidos e sombreados, onde o mosquito palha se reproduz.
Segundo Luiz Osamane, o inquérito e a aplicação de inseticida são feitos em 100%, nas áreas, intensas e moderadas. Ele diz que no caso especifico desta última ação, ela possui o efeito residual que tem como objetivo eliminar o mosquito na sua fase adulta. Outro ponto enfatizado por ele é quanto à responsabilidade e conscientização que a população deve ter em não destinar lixo e mato nos quintais e lotes vagos, devido à possibilidade de reprodução do mosquito palha.
O calazar que uma doença causada por um protozoário, microorganismo e acomete a cães, canídeos (lobos) e roedores silvestres, mais raramente os gatos.
– O proprietário do cão tem que ter a chamada posse responsável que é cuidar bem do animal e também prevenir quanto à picada do mosquito.
TRANSMISSÃO
A leishmaniose é transmitida para os animais e para o homem através da picada de mosquitos específicos, Lutzomyia longipalpis. No caso da doença se manifestar no cão de maneira visceral, a mesma atinge alguns órgãos como, por exemplo, baço e fígado, que aumentam de tamanho, na forma cutânea, mostra-se com o crescimento exagerado das unhas e ferimentos na pele que nunca cicatrizam. Por isso, apenas com exames laboratoriais é possível diagnosticar com precisão a leishmaniose.
No ser humano, o calazar tem diversas manifestações e, se diagnosticada a tempo, pode ser tratada com 95% de chances de cura. De acordo com Luiz Osamane, duas vezes por ano é realizado na cidade trabalho na área de transmissão intensa e uma vez por ano na moderada, sendo que na esporádica o trabalho é realizado apenas em torno dos casos humanos.
NÚMEROS
O sanitarista afirma ainda que em 2005, foram registrados na cidade 52 casos humanos de calazar, e que em 2006 esse número diminuiu para 32.
– Esse número não foi o esperado, tínhamos a esperança de que baixasse mais - diz.
Segundo ele, em Montes Claros a população canina atual é estimada em 60 mil animais.
- Índice elevado, pois o ministério da Saúde preconiza que a população de cães não pode ultrapassar os 10% da população humana. São 52 mil cães que deveriam ser examinados, entretanto, somente 23.934 cães realizaram o exame. O índice de positividade dentro desse número é de 8,2% que é uma taxa elevada, este percentual representa 2.144 cães.
Luiz Osamane afirma que o trabalho em 2006 de combate ao calazar só não foi mais intenso devido à falta de kits de reagente, necessário para o diagnóstico do exame canino. O objetivo de coletar o sangue dos cães é a identificação de cães positivos para o calazar que depois de buscados nas residências são eutanaziados (sacrificados) no centro de controle de zoonoses. Ele explica que esse material é repassado pela secretaria estadual de Saúde.
