Naíma Rodrigues
Repórter
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- Tratados como porcos e vivendo em um chiqueiro - é o que diz Antônio José, que está atualmente abrigado no poliesportivo de Montes Claros, no bairro Monte Carmelo. A situação de miséria e degradação em que se encontram os abrigados, como ele, confirma o total descaso do poder público com a situação dos mais carentes.
Flagrante de um ambiente que lembra o de séculos passados:
flagelo atinge pelo menos 12 famílias (foto: Wilson Medeiros)
Segundo ele, não bastando o sofrimento de serem arrancados de suas casas, e submetidos a um abrigo, ainda sofrem os piores tipos de humilhações.
- Até para o uso do banheiro, as pessoas aqui precisam implorar ao guarda de plantão para que ele abra a porta do banheiro, que vive trancada.
Os abrigados vivem em condições precárias, voltando aos tempos de lampiões, utilizando velas, já que não é disponibilizada para eles a energia elétrica.
- A luz não é para todos, mas para poucos.
FALTAM PROJETOS
- Fomos assumidos pela assistência social da prefeitura, mas estamos largados, sem luz, sem poder utilizar o banheiro. A prefeitura não fala nada, não dá satisfações. O que ela faz com a gente é muita humilhação. Humilhação é o que sofremos aqui dentro – afirma Antônio José.
Existem hoje 12 famílias abrigadas no Poliesportivo, segundo os moradores.
- Nós estamos vivendo de forma subumana, já que não existe uma assistência social presente. Estamos largados. Às vezes, quando são distribuídos alguns pães pelo projeto que existe aqui, algumas crianças olham aquilo como se fosse um prato de comida. É normal devido à fome. Mas logo surge alguém para reclamar que as crianças estão espiando a comida – diz Antônio José.
De acordo com ele, não existe privacidade no local, as portas não possuem chaves, e como muitos quartos não têm portas, são fechados com lonas de plásticos.
SONHO
- O que eu mais quero é uma moradia, um lugar fixo. E digno. Aqui não é o nosso lugar, não – afirma Enoque Soares.
Enoque, a esposa e os filhos, dividem um pequeno quarto, onde a porta é forrada com uma lona preta. Dentro da casa há uma pequena estante, um fogão e uma cama para a família. Ao fundo ficam entulhos.
Junto a pouca comida que existe na casa, podem ser vistas algumas velas, que a família utiliza em casos de necessidades, uma por vez.
- Não há dinheiro para gastar com isso, somente com a comida e olha lá.
Enoque Soares conclui dizendo que gostaria de receber uma feira de alimentos básicos.
- Somente uma feira, para poder dar o que comer aos meus filhos.
PROPOSTA SEM FUNDAMENTOS
De acordo com Antônio José, a prefeitura apresentou a eles uma proposta de aluguel parcial, onde os abrigados teriam o apoio da prefeitura, durante três meses, mas que depois deste período teriam que arcar sozinhos com o valor do aluguel.
- Não vamos aceitar, pois não temos como pagar o aluguel depois. Teríamos que ser incluídos no programa da prefeitura, da distribuição de casas populares, mas, segundo eles, existem muitas pessoas na nossa frente, com direito à residência – diz Antônio José.
A prefeitura foi procurada pela reportagem, que preferiu não calar sobre o assunto.
