Paula Machado
Repórter
As festas de agosto em Montes Claros são tradicionais e fazem parte da rica cultura local. Já é comum ver nas ruas os catopês, marujos e caboclinhos desfilando com suas roupas coloridas e homenageando o Divino, São Benedito e Nossa Senhora.
Apesar da idade, mestre Zanza continua participando
das Festas de agosto (foto: XU MEDEIROS)
De acordo com o mestre dos catopês de Montes Claros, Zanza, quando as festas terminam, o trabalho continua. Já se preparam para a próxima vez que irão desfilar pelas ruas da cidade.
Já encaminham os nomes dos festeiros, mandam fazer as roupas, enfim começam com todos os preparativos novamente.
- Cada um tem sua roupa. Catopês são pobres. Têm uma única roupa arrumadinha para sair aos domingos e acaba usando essa também para desfilar nas festas de agosto. Por isso, muitas vezes alguns já não possuem mais roupa e temos de arranjar outras - conta.
Segundo mestre Zanza, o maior problema que atinge o grupo é a questão financeira. Para ele a estrutura do grupo nesse aspecto ainda é precária, apesar da prefeitura ajudar um pouco. As pessoas geralmente contribuem com doações.
- Muita gente compra fitas, panos e traz aqui para mim, para ser entregue ao grupo dos catopês. Até mesmo estudantes de medicina também doam roupas para nós - afirma mestre Zanza.
HISTÓRIA
Dia 16 de agosto mestre Zanza completa seus 71 anos de catopês.
- Meu avô que era escravo, porque o catopê era uma dança de escravos, juntamente com meu pai que foram os percussores dos catopês aqui na nossa região - explica ele.
Zanza admite não ter previsão para deixar o grupo que tanto ama. E afirma já ter percussores para que a tradição não morra.
-É uma emoção muito boa. Estou a muitos anos neste grupo. Para mim é uma obrigação manter o grupo vivo para manter também viva a tradição. Pretendo ficar no grupo até quando Deus permitir. Mas já estou ensinando aos meus filhos e netos para que possam me substituir no dia em que eu faltar - diz Zanza.
Zanza ainda brinca dizendo que seus filhos admiram a força e a vontade dele quando estar homenageando o divino.
- Meus filhos falam que eu posso estar até doente, mas que quando estou no meu grupo de catopês dançando pelas ruas da cidade e homenageando o divino, pareço ter o espírito de um jovem. A doença e todo mal então somem e surge um homem sadio e feliz desfilando pelas ruas de Montes Claros - comenta ele sorrindo.
Alguns dos participantes do grupo foram iniciados aos 3 anos de idade -segundo mestre Zanza.
Durante o ano viajam para outras cidades e regiões para apresentarem sua dança e se encontram com outros mestres para discutir sobre algo a respeito do grupo.
Possui uma relação amiga com outros grupos de outras regiões como Francisco Sá, Ituiutaba, Uberlândia, Juiz de fora, São Paulo, entre outros. Inclusive todo ano trazem grupos de fora para se apresentarem na cidade.
Mas o catopê não é só um grupo de dança para representar as tradições folclóricas da região. Serve também como uma escola, na qual mestre Zanza ensina a seus alunos lições de vida.
- O grupo parece um colégio. Aqui também converso com os jovens e as crianças a respeito de tudo. Eles recebem conselhos e ajuda, principalmente para seguir o caminho certo na vida. Muitos deles tiro da vida desenganos e caminhos errados para dançarem no grupo - relata ele.
Para mestre Zanza é muito ruim quando um amigo morre. Para os catopês é uma perda irreparável. Todos sentem falta.
- Muitos da minha época já estão falecidos, ainda restam alguns. É muito desastroso quando isso acontece. Mas o grupo não pode parar. Não pode deixar a fonte secar - explica ele.
Dois de seus grandes companheiros falecidos são Senhor Carpinteiro Côo era chamado pelos amigos e conhecidos e Zezinho Mutagem.
CURIOSIDADE
Mestre Zanza conta em exclusividade a O NORTE que em um determinado dia em que Maria Cossudinha faleceu, no dia 17 de agosto, ele e seu grupo foram chamados para carregar o caixão até a igreja da matriz. Que nesse dia quando tocaram os tambores e quando o canto começou, uma energia diferente dominou a cena. Segundo mestre Zanza, Maria Cossudinha era da religião da umbanda e que muitos da irmandade naquele dia desmaiaram. Uma coisa mística e curiosa.
AGENDA
Dia 27 de junho, a escola estadual Antônio Figueira promove o sarau poético.
A partir das 14h, no colégio.