Manter o orçamento familiar no azul em março foi uma tarefa difícil para a maioria dos brasileiros. O mês apresentou a maior inflação para o período desde a implantação do Plano Real, em 1994. O índice nacional bateu 1,62%, puxado pela alta dos combustíveis e dos alimentos.
E se no país o dragão está cuspindo fogo sem dó, em Montes Claros não é diferente – pelo contrário, é até pior. A inflação do último mês bateu mais um recorde e ficou acima da taxa nacional. O índice de preços ao Consumidor (IPC) chegou a 1,69%, também inflado pelos mesmos grupos no país: combustíveis e alimentos.
Com esse resultado, o acumulado nos últimos 12 meses é de 12,36% – acima do nacional, que está em 11,3% – e no ano a taxa soma 3,73% – contra 3,20% do índice no país.
“Esse mês de março nos surpreendeu”, diz a economista Vânia Vilas Boas, professora coordenadora do Setor de Índice de Preços ao Consumidor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
“Não teve para onde o consumidor correr”, analisa a professora, ressaltando que o momento é de muita preocupação e, mais do que nunca, de exigir pesquisa de preços.
Mesmo assim, Vânia destaca que muitas famílias estão reduzindo a quantidade consumida ou até mesmo deixado de consumir alguns produtos e serviços, porque a renda familiar não tem conseguido acompanhar a aceleração dos preços.
A feirante e dona de casa Janete Mariana da Silva, de 44 anos, diz que tem sido cada vez mais difícil sobreviver com os aumentos constantes.
“Em casa, uma das nossas prioridades é a alimentação, porque precisamos ter saúde para ir à luta. Uma ida ao supermercado nos dias de hoje exige uma lista para conseguir comprar o básico e que dure até o fim do mês”, afirma.
Em Montes Claros, o grupo alimentação foi o que mais pesou na composição da inflação de março, com uma variação positiva de 2,75%.
“É preciso se reinventar com novas receitas, substituir os produtos e até mesmo buscar por uma marca similar”, conta Janete. Ela cita o óleo de cozinha como um dos produtos essenciais e que teve uma disparada no preço em março.
“Posso dizer que o orçamento anda apertado até para quem tem muito dinheiro. E não esquecendo que também já notamos a falta de alguns produtos para comprar”, diz.
Além do óleo de cozinha (16% mais caro), os hortifrútis tiveram aumento considerável, aponta Vânia. A cenoura, por exemplo, ficou 27% mais cara. “Isso tudo em função do momento econômico que nós vivemos: seca intensa no Sul do país em janeiro e fevereiro – período de colheita das safras de grãos referente a 2022 – e na região Centro-Oeste, ao contrário, tivemos excesso de chuvas”, explica a economista. Sem contar com impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia.
OUTROS PESOS
A alimentação é o grupo que representa o maior gasto das famílias montes-clarenses (35%), ressalta Vânia Vilas Boas. No entanto, outros gastos também pesaram no orçamento em março: o gás de cozinha, IPTU – que subiu 10,67% –, aluguel de imóveis e materiais de construção.