Manoel Freitas
Repórter
onorte@onorte.net
Nos dias atuais, os fotógrafos, sobretudo dos grandes veículos de comunicação, têm a mesma importância do que os jornalistas mais gabaritados. Mas nem sempre foi assim. Em que pese essa nova linguagem ter chegado ao Brasil em 1943, pelas lentes do fotógrafo francês Jean Manzón, que transformou a revista ilustrada O Cruzeiro num fenômeno de vendagem (com tiragens de até 700 mil exemplares), durante muito tempo a fotografia foi colocada em plano secundário.
Naquele tempo, era dado – então – o pontapé inicial para uma nova era. A inovação de O Cruzeiro, significava o embrião do que viria a ser a grande transformação na utilização da linguagem fotojornalística A partir daí, e com o surgimento da rede mundial de computadores, a internet, passar pela renovação visual tornou-se mais do que uma necessidade: uma obrigação. De modo que a valorização da fotografia nunca foi tão imperiosa como na atualidade.
Jornais e revistas direcionados aos mais diversos segmentos, publicam fotos em grandes formatos. Essa aposta ocorreu, contudo, não em relação a fotos estáticas, e, sim, em relação a fotos concebidas em alta velocidade ou de forma seqüencial. Para tanto, uma das primeiras medidas adotadas pelos grandes jornais e revistas foi substituir as ultrapassadas câmeras Rolleiflex pelas modernas japonesas Pentax e Nikon. Hoje em dia, o mesmo processo revolucionário ocorre em relação às máquinas digitais: os maiores jornais do país, há muito, aboliram o sistema analógico, mantido ainda por parte de revistas de circulação semanal.
Essa nova mentalidade mudou radicalmente algumas regras do jogo do jornalismo. Com novo status, os fotógrafos passaram a ocupar o banco da frente dos veículos. É que, chegando ao local da matéria, o fotógrafo é o primeiro a sair, aumentando a possibilidade de concepção de fotos de flagrantes. Mais ainda, mesmo que a matéria não tenha sido pautada, diante de uma boa foto, um jornalista é escalado para fazê-la, invertendo, assim, a fórmula até então adotada como cláusula pétrea pela imprensa.
A valorização da fotografia, em outras palavras, inverteu as posições, sob o pretexto de que o repórter pode perfeitamente apurar o fato depois de acontecido, enquanto o fotógrafo tem que estar em cima do lance: o novo status do repórter fotográfico, viajando no banco da frente, com equipamento de última geração, com seu trabalho considerado de importância igual ao texto, marca profundamente esta nova geração
Esta adequação consiste em adotar formatos que insiram o jornalismo na modernidade e se traduz, ainda, na busca de técnicas que levem o leitor a acreditar que o que está ali publicado é a verdade tal qual aconteceu e não mais uma visão do fato.
Trocando em miúdos, transformar o jornalismo foi só uma questão de tempo para o fotojornalismo. Por sinal, o mito da verdade fotográfica se baseia na capacidade que a imagem técnica teria em espelhar a realidade. Imagens não são questionadas: apenas registram o mundo como ele é.