Manoel Freitas
Repórter
onorte@onorte.net
A fotografia se movimenta a passos largos. Sua evolução foi e é contínua, mas para obtenção de um resultado satisfatório, independentemente do aspecto cronológico e do aparato tecnológico disponível, nunca deixará ser traduzida pela grafia da luz: seu conhecimento e utilização correta são ferramentas indispensáveis ao fotógrafo profissional ou mesmo aquele que, não o sendo, procura esgotar a possibilidade em cada click, retratar a cena, os lugares, as pessoas e as coisas da melhor forma possível.
De modo que, a facilitação para a escolha de tipos e preços de equipamentos fotográficos, notadamente no que concerne à fotografia digital, não eliminou a necessidade de conhecimentos mínimos de fotografia para obtenção de uma boa imagem. Em qualquer tempo, e, sobretudo agora, quando os telefones foram transformados em máquinas de produzir imagens, a postura adequada do fotógrafo diante do alvo pré-estabelecido ou do inesperado, nunca deixará de ter o seu valor.
Na verdade, seja com uma teleobjetiva de longo alcance na mão ou mesmo com um celular com poucos recursos, é imprescindível que o fotógrafo trabalhe em uníssono com o movimento. E dentro desse movimento, nos ensina os mais gabaritados, existe um instante no qual todos os elementos que se movem ficam em equilíbrio. É aí, então, que se manifesta a alma do artista, capaz de intervir neste instante, de forma que o equilíbrio se torne imóvel.
A fotografia tem peso tão grande nos dias atuais, que até mesmo jornais tidos como conservadores, como “O Estado de São Paulo” e o “Estado de Minas”, se curvaram diante das imagens. Reservam – muitas vezes – uma página inteira para uma única foto. Aliás, esta é uma tendência mundial: de há muito os grandes jornais da Europa caminham nessa direção, a exemplo da People, a revista mais vendida do mundo, na qual a fotografia fala muito mais alto do que o texto.
O Norte, em meio a essa febre da imagens e em respeito à história, elege como personagem principal dessa reportagem especial o fotógrafo Joaquim Pinheiro dos Santos, que há 50 anos trabalha na Praça Dr.Carlos Versiani, em Montes Claros. Portanto, enfoca a fotografia por seu ângulo mais nostálgico: na área mais central da cidade, Joaquim não apenas retratou pessoas, como, também, é testemunha ocular de nosso progresso, com seus erros e acertos.
JOAQUIM LAMBE-LAMBE: MEIO SÉCULO DE HISTÓRIA
Não se pode falar da história da fotografia em Montes Claros sem citar o nome de Joaquim Pinheiro dos Santos, na verdade o último fotógrafo lambe-lambe da cidade. No meio da praça até pouquíssimo tempo atrás, quando a prefeitura reformou o logradouro e o contemplou com instalações confortáveis, Seu Joaquim conseguiu criar oito filhos e hoje, equilibrado financeiramente, tem dois funcionários e pode dedicar maior parte de seu tempo aos 10 netos e quatro bisnetos.
Joaquim Pinheiro: aos 77 anos, o paraibano-mineiro hoje tem tempo de sobra para curtir os 10 netos e quatro bisnetos
A extinção da figura do lambe-lambe, hoje encontrada apenas em brechós, por si só, revela que, principalmente na fotografia, o mundo anda a galope. Mas Joaquim Pinheiro, paraibano de nascimento e montes-clarense de coração desde 1948, trás como ninguém vivo na memória essa modalidade de se retratar as pessoas. Pelo menos na memória, o tempo não pára, e o nosso personagem-mor, hoje com 77 anos, nos ajuda a compreender o porquê do nome lambe-lambe:
- O nome lambe-lambe vem de um gesto incomum nos dias atuais, em que o profissional, para verificar de que lado estava a emulsão de uma chapa, molhava com saliva a ponta do indicador e do polegar objetivando pressionar a superfície do material num dos cantos, para evitar manchas – explica Joaquim, que há dois anos trocou a máquina analógica pela digital. “Sinal dos tempos” – brinca, lembrando que aprendeu a arte de fotografar no Foto Elias, em Belo Horizonte, poucos meses depois de servir ao Exército Brasileiro.
FOTO PINHEIRO
Desde sempre, o Foto Pinheiro tem, praticamente, um único produto: fotografias 3 X 4. Por oito unidades, cobra R$ 5,00. O movimento é tão intenso que a reportagem de O Norte ficou pouco mais de 15 minutos no local e nada menos do que cinco pessoas recorreram aos serviços do ex-lambe-lambe.
Luiz Fernando, de 17 anos, veio em Montes Claros para se alistar no Exército. Natural de Capitão Enéas, foi clicado pela equipe de Seu Joaquim e, em menos de uma hora, já estava com as fotografias na mão.
- Por quê recorrer a um estúdio com ampla estrutura e pagar um preço bem mais alto se, aqui, posso ter o mesmo serviço a um preço bem mais em conta – justifica a escolha, lembrando que igualmente procederam os dois conterrâneos que o acompanhavam no momento da entrevista.
CONCORRENTE
Gildásio Neponuceno Mota divide com Seu Joaquim o cômodo construído pela prefeitura municipal, na administração passada, para garantir a presença dos fotógrafos na Praça Dr. Carlos Versiani. Natural de Montes Claros, Gildásio tem 47 anos e desde os 15 trabalha como fotógrafo no logradouro.
Pratica os mesmos preços do concorrente e não tem nada a reclamar:
- O sol é igual para todos. Tenho uma clientela cativa e outra flutuante, mas, na média, o movimento é muito bom. Dá para tirar o sustento e viver com dignidade. A prefeitura entendeu que tínhamos direito de permanecer na praça e hoje estamos muito bem acomodados – prossegue Gildásio, que há cinco anos aderiu à tecnologia digital, lembrando que todos os profissionais da área, independentemente de seu porte, caminham na direção de abrir mão do equipamento analógico.
DIGITAL: A FOTOGRAFIA NÃO TEM SAÍDA
A fotografia digital, pouco a pouco, vai substituindo a tradicional ou analógica. É indiscutível suas vantagens, sobretudo em função da sofisticação dos fabricantes, que torna cada vez mais fácil o manuseio dos equipamentos. Também em relação ao preço, dia a dia as indústrias que disputam o mercado disponibilizam seus modelos a preços cada vez mais acessíveis.
Além disso, as câmeras digitais hoje fazem parte do arsenal de qualquer profissional liberal. Na área médica , é apetrecho indispensável, sobretudo porque a definição atingida pelos fabricantes é suficiente – por exemplo - para fotografar e enviar a outro telefone ou computador, à distância, imagens de lesões, raios X, etc., facilitando, ainda, a transmissão de imagens durante procedimentos cirúrgicos ou endoscópicos.