
A falta de pediatras nas unidades de saúde de Montes Claros tem exposto pais e filhos a uma longa espera e até mesmo a ficar sem atendimento. As reclamações não param de crescer e se referem tanto aos hospitais quanto às unidades básicas de saúde dos bairros.
A falta desses profissionais nos plantões vem acompanhada de alta na demanda nas últimas semanas, provocada por um surto de virose e problemas respiratórios.
A engenheira B.L. tem vivido as consequências dessa dificuldade de atendimento. Ao buscar a Santa Casa durante a madrugada de ontem para atendimento da filha, de 5 meses, chegou a ser direcionada para a ala Covid.
“Preferi voltar para casa e esperar o dia clarear para levar a uma pediatra particular. Não vou colocar minha filha na ala da Covid correndo o risco de sair de lá com um problema maior. Eles sequer trocaram o lençol do atendimento anterior, que estava sujo de sangue. Disseram que não tinha material”, relata a mãe.
A situação também é crítica no Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF). No último final de semana, uma mãe gravou um vídeo que circulou na internet, reclamando do atendimento no hospital. “Estou aqui há sete horas aguardando atendimento. É desumano. É uma humilhação”, disse a mulher com a filha recém-nascida nos braços.
O Hospital Universitário emitiu nota comunicando que, no final de semana (18 e 19 de dezembro), foi o único hospital a ter escala em pediatria, o que ocasionou maior sobrecarga no sistema e demora no atendimento.
“Neste momento, no Pronto-Socorro do HUCF, há 38 pacientes internados, e nossa capacidade instalada é de apenas 21. Ainda há oito pacientes em observação, totalizando 46, sendo 19 pediátricos, quatro ortopédicos, 18 clínicos e cinco cirúrgicos. Duas puérperas aguardam vagas para a maternidade e um recém-nascido aguarda vaga para Unidade de Cuidados Intermediários”, informou o HU.
JUSTIÇA
O quadro crítico dessa especialidade já havia sido mostrado no mês passado, quando o advogado Igor Rafael de Matos, representando os pediatras da Santa Casa, enviou uma carta aberta à população comunicando que os profissionais não seriam responsáveis pelas diversas ocorrências.
O documento mostrava que os médicos estariam sendo submetidos a circunstâncias de trabalho inadequadas dentro do hospital. Em razão das diversas notificações e da apuração do Ministério Público, o juiz Francisco Lacerda, da Vara de Fazenda Pública, determinou que a Santa Casa mantenha ao menos um pediatra disponível para atendimento pelo SUS 24 horas por dia durante sete dias da semana.
Segundo a determinação do juiz, o profissional fica proibido de atender pacientes privados ou da saúde complementar enquanto estiver no plantão. Caso a decisão não seja cumprida, o hospital terá de pagar multa diária de R$ 5 mil.
Até o fechamento desta edição, a Santa Casa não se pronunciou sobre o assunto.
Alta na demanda
A situação também tem se repetido na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Chiquinho Guimarães. Foram várias as reclamações quanto à demora no atendimento, que chegou a nove horas de espera.
Em entrevista à TV local, a secretária Municipal de Saúde, Dulce Pimenta, informou que a unidade mantém dois pediatras por plantão, entretanto, a alta demanda tem impactado no atendimento.
“Nos horários de pico colocamos até três pediatras para atender essa grande demanda. Mas chegam lá 60 crianças. A UPA está sim com sobrecarga”, disse a secretária, orientando os pais a levarem as crianças primeiro às portas de entrada da rede pública, que são as unidades básicas de saúde nos bairros.
Dulce alega que, embora as equipes de saúde da família não possuam pediatra, os profissionais estão aptos a avaliar as crianças e encaminhá-las à UPA ou ao hospital em casos mais graves.
CONTRATAÇÃO
A secretária de Saúde disse ainda que desde setembro houve a contratação de profissionais para reforçar o atendimento nas unidades municipais.
Quanto à falta de pediatras em outros hospitais, o que acaba por sobrecarregar a UPA, Dulce Pimenta afirmou que essas unidades de saúde já foram notificadas a contratar profissionais.