No próximo dia 3 de dezembro, a Associação das Pessoas com Deficiência de Montes Claros (Ademoc) realiza, em conjunto com a Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/MG, o “Primeiro Encontro Regional de Pessoas com Deficiência do Norte de Minas — Unindo Vozes por Mais Acessibilidade e Inclusão”. O evento acontecerá de 7h30 às 12h30 no auditório da OAB, e terá mesa-redonda com especialistas do setor, palestras e oficinas. São esperados 600 participantes, entre autoridades públicas, advogados, instituições de apoio a pessoas com deficiência, servidores públicos e acadêmicos. O evento é gratuito e aberto ao público.
De acordo com Valcir Soares, presidente da Ademoc, o objetivo “é unir as pessoas em torno do objetivo comum que é o de encontrar soluções e fazer cumprir as leis para PcDs”. Além disso, Valcir reforça que várias deficiências foram incluídas na lei e nem todos estão cientes dessas mudanças. “Fibromialgia, visão monocular, surdez unilateral, doenças raras e outras estão categorizadas como PcDs e as pessoas precisam conhecer e saber dos seus direitos”, diz.
Erika Porfírio Almeida Santos, educadora física, é PCD há 10 anos, a partir de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico, que deixou como sequela a perda dos movimentos do lado direito do corpo. “Hoje eu já consigo andar e ainda tenho dificuldade maior no braço. As atividades simples, como tomar banho, escovar os dentes, amarrar um tênis, fazer uma comida, são muito difíceis para mim. Vou me adaptando, uso a mão lesionada para auxiliar, mas tenho sempre que pedir ajuda de quem está próximo”, conta. Para ela, as políticas públicas “são bonitas no papel, mas, na prática, falta respeito às pessoas com deficiência, e os equipamentos públicos não são adaptados para receber PcDs”.
A rua é um outro desafio no universo das pessoas com deficiência. “Não é possível andar na rua com tranquilidade sendo PcD. As calçadas são ruins, quando se é cadeirante, os aplicativos recusam corridas, são diversas situações de desrespeito”, diz Erika, que sentiu o preconceito também na esfera profissional. “Não foi de maneira explícita, mas nos olhares de pessoas que eu atendia ou convivia. Algumas percebi que desconfiavam da minha capacidade de trabalho. As oportunidades diminuíram, as pessoas não me contratavam mais como personal trainer e eu tive que trabalhar na área de reabilitação neurológica. Talvez siga esse caminho, pois vi a precariedade desse serviço na nossa região”, afirma.
Helder Lopes, assistente social da Ademoc, revela que um dos pontos mais críticos na luta pela acessibilidade é a parte de recursos financeiros e humanos. “O município não investe na Ademoc. Temos a parceria na realização de eventos, mas, para a Associação, não há investimentos”, lamenta. Com o encontro, Helder pretende reunir e fomentar a articulação entre profissionais de saúde, pesquisadores, universidades, entidades públicas e privadas, pacientes e familiares. “O foco é ampliar conhecimentos, inclusão e, principalmente, formular políticas públicas baseadas em evidências e escuta ativa da comunidade envolvida, além de fortalecer a rede de cuidados, capacitar profissionais com pesquisa e garantia de direitos”, declara.
