ANA KARIENINA


Repórter

Garantir a participação efetiva dos leigos e da comunidade nos ritos da Santa Missa. Após perceber pequenas mudanças surgidas em diversas comunidades católicas, a Igreja decide realizar reformas através do Concílio Vaticano II, que aprova o documento Sacrosanctum Concilium.

Ana Karienina





Pe. Dorival autografa o livro para a Presidente da Soebras/Funorte, Raquel Muniz

Para desvendar esse período histórico da Igreja, principalmente no Brasil, e ajudar a compreender o movimento de renovação litúrgica, o Pe. Dorival Barreto Júnior decidiu se debruçar sobre documentos diversos e precisou de paciência e persistência para encontrar material sobre as ideias religiosas desse período no Brasil. Apesar das dificuldades, a vontade de descortinar os fatos foi mais forte e acabou sendo coroada com a publicação da tese de doutorado.

- A renovação eclesial e litúrgica no Brasil durante os pontificados de Pio XI e Pio XII - que acaba de se transformar em um elegante livro que foi lançado na noite desta quarta-feira, 18, na Catedral de Montes Claros.

- Para levar a termo esta pesquisa muitas dificuldades objetivas foram encontradas. A primeira delas foi a falta de material, acrescente-se a isto o fato de que é muito difícil encontrá-los, senão quase impossível, nas bibliotecas e arquivos à disposição - relata Pe. Dorival.

O fio condutor dessa história passa, sobretudo, pela Encíclica Mediator Dei e pelo Pontificado dos Papas Pio XI e Pio XII, quando acontece efetivamente a renovação da eclesiologia e liturgia, posto que ambos incentivaram, com encíclicas e decretos, a nova caminhada da Igreja. É neste tempo, segundo o autor, que os fiéis são convidados a reimplantar o Reino de Cristo e a Igreja percebe que é necessário sair da clausura para afirmar sua presença no mundo moderno. A partir de então, o leigo deixa de ser passivo para se tornar igreja de fato. As missas, outrora celebradas em latim e traduzidas posteriormente ao povo, passam a ser celebradas na língua local.

Contar como as mudanças se deram no Brasil e como os princípios da Encíclica Mediator Dei foram aplicados por aqui, mesmo sem ter muitos documentos à disposição, é o grande trunfo do livro, que para muitos servirá como fonte de pesquisa e de esclarecimento sobre a liturgia na igreja.

- Estou certo de que não somente os padres, mas também os leigos poderão encontrar nesta obra muita luz para compreender o que aconteceu nas dioceses do Brasil alguns anos antes do Concílio Vaticano II - afiança o Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Montes Claros, Dom Geraldo Magela de Castro.

ESTUDOS LITÚRGICOS NO BRASIL

O Arcebispo Emérito acrescenta ainda que o livro que vem preencher uma lacuna nos estudos litúrgicos no Brasil, pode ajudar a resgatar, junto à comunidade, a importância de interiorizar a liturgia e, por conseqüência, ser um instrumento para mudar os contra valores da violência, da falta de amor e caridade tão presentes na vida moderna.

Já o Arcebispo Metropolitano destaca que o livro não apenas favorece a compreensão da história da igreja neste período, mas também traz à tona o sentido real da liturgia.

-O livro nos mostra que a liturgia precisa ser viva.  O conteúdo litúrgico nos mostra que viver em Cristo é viver em comunhão com o próximo, é ter amor a Deus e ao seu irmão. A liturgia não vem para satisfazer a tendência de o humano ir ao encontro do divino, mas, ao contrário, de permitir que o divino venha até o humano, que por sua vez, tem inoculado o divino em seu coração - frisa.

Os presentes aplaudiram a iniciativa do Pe. Dorival em compartilhar com a comunidade suas descobertas e um pouco mais da história da Igreja.

- O livro nos permite compreender melhor a renovação por que passou a Igreja Católica e nos faz entender a importância da liturgia. Mas o que mais me chamou a atenção foi a relevância que a escola passa a ter como espaço de instrução religiosa a partir de tais mudanças. Aqui percebemos a importância das escolas cristãs na história da Igreja - afirma a Presidente da Soebras/Funorte, Raquel Muniz.

Ela acrescenta ainda que a Soebras faz questão de ter párocos entre seus professores, pois muito têm a somar às instituições educacionais e aos leigos.

PADRE DORIVAL

Padre Dorival Barreto tem 47 anos. Baiano de Jequié, nasceu no dia 10 de março de 1964. Foi ordenado no dia 10 de janeiro de 1988, junto com o então diácono Ivan Clementino de Jesus, Padre Ivan, pela imposição das mãos do Bispo Dom José Alves Trindade. Exerceu o ministério como vigário paroquial nas paróquias São João Batista (Montes Claros) e Santos Reis (Engenheiro Navarro). Foi pároco da Paróquia Nossa Senhora da Consolação (Montes Claros), administrador paroquial da Paróquia Santo Antônio da Boa Vista (São João da Ponte) e vigário paroquial da Catedral.

Padre Dorival Barreto passou dois anos e três meses em Roma (Itália), de 2000 a 2002, para concluir doutorado em Teologia Dogmática. Assim que retornou da Cidade Eterna, tomou posse como pároco da Catedral e sucessor de Monsenhor Antônio Monteiro Alencar.

Padre Dorival Barreto é também professor na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e do Seminário Maior Arquidiocesano Imaculado Coração de Maria.