(MANOEL FREITAS)
Moradores da zona rural de Montes Claros são excluídos do serviço público de saúde do município. Sem o funcionamento de unidades básicas nas áreas fora do centro urbano, eles precisam se deslocar para a cidade e buscar atendimento na “Unidade de Saúde da Família Apoio Zona Rural”, montada no Mercado Municipal.
No entanto, para conseguirem uma vaga, têm que sair de casa ainda de madrugada e gastar dinheiro que muitos não têm. Sem contar que muitos voltam para o campo sem conseguir atendimento, pois a unidade tem capacidade para realizar apenas 20 consultas, com um médico somente trabalhando.
A situação considerada absurda mobiliza o discurso de vereadores tanto da oposição quanto da base aliada do prefeito Humberto Souto na Câmara Municipal. “É um retrocesso, vai na contramão do que apregoa o SUS, a estratégia de Saúde da Família”, critica o parlamentar e médico Marlon Xavier (PTC).
Idelfonso Oliveira (MDB) e Valdivino Antunes (MDB) reforçam a fala de Marlon e fazem coro a esses vereadores da oposição o Pastor Elair (MDB) e Ildeu Maia (MDB), há cinco legislaturas o mais votado na zona rural.
Realizando atendimentos no posto do Mercado Municipal, Valdivino disse que “está difícil a situação da saúde. Não se pode tapar o sol com a peneira”.
O parlamentar considera um grande transtorno o deslocamento do homem do campo até a cidade para conseguir atenção básica. “São obrigados a acordar de madrugada para chegar aqui. E quando a gente atende na zona rural é na tora, não tem um lugar adequado como esse aqui”, compara.
Para o vereador médico, não há justificativa para que as unidades de saúde não funcionem na zona rural de Montes Claros. “O recurso federal para isso existe”, garante Valdivino.
SACRIFÍCIO
Enquanto o município fecha os olhos para as necessidades da comunidade rural, essa parcela da população tem que se desdobrar para conseguir o básico na saúde.
Francisca Gonçalves de Freitas, que mora em Campos Elíseos, procurou a unidade do Mercado Municipal para tentar conseguir um exame de sangue para o marido Valeriano Lopes. “Só um exame de sangue custa R$ 245. Vim para saber se dão um jeito. Não podemos estar bem, porque tudo que precisa ser feito a gente tem que vir para o Mercado. Nós já gastamos demais moço!”, afirma Francisca.
O vereador Ildeu Maia, em seu pronunciamento, frisou que uma pessoa da zona rural gasta cerca de R$ 80 para ir até o Ponto de Apoio no Mercado Municipal. “É muito difícil porque, conforme o problema de saúde, precisa trazer um acompanhante, ou seja, no mínimo R$ 160, sem contar com os gastos com exames, medicamentos e outras coisas mais”, enumera.
OUTRO LADO
Na Unidade de Apoio do Mercado, a servidora da Secretaria Municipal de Saúde disse que “em breve teremos especialistas e até mesmo serviço de odontologia”.
A escolha do Mercado para abrigar o Ponto de Apoio à comunidade rural é comemorada pelo comerciante João Ribeiro. “Para mim e o Mercado, a abertura da unidade foi ótima, porque tem produtor rural que compra aqui e que se não fosse o posto e a farmácia, não conheceriam a loja”, argumenta, celebrando o aumento nas vendas.
A reportagem procurou a secretária Municipal de Saúde, Dulce Pimenta, para falar sobre as críticas à falta de unidades de saúde na zona rural de Montes Claros. Do mesmo modo, enviou e-mail à Assessoria de Comunicação da prefeitura. Entretanto, como tem sido praxe no atual governo, até o fechamento desta edição não foi enviado retorno.