Sem previsão para volta das escolas, pais improvisam e pensam até em pedir demissão

Christine Antonini Repórter
O NORTE
14/07/2020 às 01:31.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:01
 (arquivo pessoal)

(arquivo pessoal)

“Caso o berçário não reabra, terei que deixar meu trabalho para cuidar da minha filha de um ano”. A afirmação é da recepcionista Railda Souto, mas se torna cada vez mais comum em lares de diferentes classes sociais à medida em que o novo coronavírus avança, deixando sem previsão para retomar o funcionamento escolas públicas e privadas, berçários e creches. 

Quando Montes Claros decretou quarentena, praticamente todos os setores fecharam as portas. Aos poucos, várias atividades econômicas foram liberadas, mas não o ensino presencial. A situação criou um drama: para vários pais, o trabalho fora de casa voltou a ser executado como antes da pandemia, obrigando-os a ter que se virar para encontrar quem fique com os filhos – vale lembrar que os avós, opção natural para muitas famílias, são grupo de risco para a Covid-19 devido à idade. 

O dilema é maior para quem tem filhos que precisam de monitoramento constante, como os bebês e as crianças de até 5 anos. Mãe de Maitê, que antes do isolamento social frequentava um berçário particular para os pais poderem trabalhar, Railda teve que mudar toda a rotina da família para olhar a filha. Primeiro, ela tirou férias; depois, foi a vez do marido. Agora, sem alternativa, o jeito foi recorrer a uma vizinha. 

“Trabalho o dia todo e meu marido, quando não está de plantão, fica com nossa filha. É exaustivo, pois ele não dorme no trabalho e precisa ficar acordado o tempo todo para dar atenção à nossa pequena. Quando ele está trabalhando, deixo a Maitê com a filha da nossa vizinha, que nos ajuda muito. Se essa situação continuar, terei que pedir demissão”, ressalta a recepcionista. 

Ela diz que a “forcinha” dada pela amiga é temporária e afirma que o fechamento do berçário trouxe muitos problemas.

“Eu, pelo menos, tenho ajuda do meu marido, mas há muitas mães que não contam com esse auxílio. Quando escolhi o berçário era pensando na segurança da minha filha, pois lá ela era alimentada na hora certa, tinha monitoramento com câmeras e eu a buscava no fim da tarde, prontinha para dormir”. 

Mesmo sufoco enfrenta a analista ambiental Laila Mota, mãe de Nicholas, de 1 ano e 4 meses. Para ela, a saída foi fazer um acordo com a empregada doméstica responsável por arrumar a casa e fazer almoço. 

“Quando eu voltei para o trabalho após a licença-maternidade, nossa opção sempre foi o berçário, por entender que tratava-se de uma empresa especializada em cuidar de crianças, as pessoas são treinadas para isso e o ambiente é adaptado. Graças a Deus, essa moça que trabalha com a gente aceitou o acordo”, pondera. 

A indignação das mães ficou maior após a reabertura dos bares na cidade. No decreto de flexibilização, a Prefeitura de Montes Claros estipulou também para berçários e creches que “as aulas perdidas deverão ser compensadas on-line ou com reposições”. 

Para Rosany Normanha, dona de um berçário, a comparação não é válida, uma vez que crianças abaixo de 3 anos não têm atividades escolares. 

“Trabalhamos com bebês, ou seja, nosso foco é cuidar do bem-estar dos mesmos enquanto os pais estão trabalhando. Eles (pais) precisam do nosso serviço é agora, não tem como repor ou mandar atividades”, pontua a empresária. 

A Prefeitura de Montes Claros informou que o Ministério Público e o Procon se reuniram para elaborar uma proposta voltada para as escolas infantis particulares, em relação a eventuais descontos. Mas no acordo não constam berçários e/ou creches. 


 

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