No abrigo, à espera de um lar

MOC tem 76 crianças aptas à adoção, mas muitas não se “encaixam” no perfil desejado

Christine Antonini*
21/05/2019 às 07:46.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:44
 (LAR NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO/ DIVULGAÇÃO)

(LAR NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO/ DIVULGAÇÃO)

Exatas 76 crianças esperam em abrigos de Montes Claros a chance de ter uma família. Este ano, a Semana Nacional da Adoção, que começou ontem, tem como missão convencer candidatos a pais a abrirem o coração para meninos e meninas com 3 anos ou mais, inclusive adolescentes.

A importância da adoção tardia é tão grande quanto o desafio que ela traz. Dados do Conselho Nacional de Justiça mostram que quanto mais velha a criança, mais distante fica o sonho de ter um lar. Em Minas, 80,63% dos menores disponíveis para adoção têm mais de 10 anos, enquanto apenas 1,35% das pessoas que estão na fila por um filho preferem esse perfil.

Em Montes Claros, as crianças e adolescentes aptos à adoção vivem em quatro abrigos/orfanatos, separadas por idade e sexo: Lar Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (meninas), Abrigo Joana Campos (ambos os sexos, de zero a 12 anos), Unidade de Acolhimento Eunice Rocha (sexo feminino, de 12 a 18 anos) e Unidade Betânia (ambos os sexos, de 12 a 18 anos).

A maioria deste público foi deixada para adoção. Os demais estão acolhidos devido ao sistema entender que estavam em situação vulnerabilidade com as famílias biológicas – caso não haja um parente apto a acolher essas crianças, elas  também ficam disponíveis para adoção.

A assistente social do Lar Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Fabíola Francielle de Jesus, pontua que além do processo burocrático, que inicia no cadastro de interesse a adotar, até os cursos preparatórios para a chegada da criança, outro ponto que dificulta a adoção são as restrições na hora de “escolher”.

Em geral, os interessados buscam bebês de até 3 anos, com pele clara e que não tenham problemas de saúde. Eles (pretendentes a adoção) colocam tantos critérios limitadores e excludentes que acaba que há muitas crianças na unidade e elas não consegue ter acesso às possíveis adoções”, diz a assistente.

DRAMA QUE SE REPETE
De acordo com Fabíola, muitas vezes o abandono repete    histórias e vivências familiares. “Tentamos entender o histórico da criança que chega. Sentamos com a família para conversar abertamente. Várias mães dessas crianças que estão hoje no Lar também foram deixadas aqui no passado. A dinâmica do abandono e da própria repetição do acolhimento institucional é recorrente nas famílias”, explica.

PERFIL
Em Minas, são 5.473 pessoas na fila por um filho adotivo e 635 crianças à procura de um lar. A discrepância nos  números se deve aos critérios de escolha das famílias – 13% aceitam somente crianças de raça branca e 1.120 querem menores de 3 anos, mas 29,13% dos meninos e meninas aptos à adoção são negros e 512 têm mais de 10 anos.

SONHO REALIZADO
Depois de quase cinco anos na fila de adoção, Lauro Barbosa e Jaqueline de Paulo puderam segurar a filha nos braços. Ao longo dessa espera, prepararam o quartinho do bebê, enquanto a ansiedade só crescia. Um dos motivos da demora foi a escolha do perfil mais comum entre os adotantes – menina, bebê e de pele mais clara.

“Desde a época do namoro pensávamos em ter três filhos, um deles adotado, pois temos histórico de adoção nas nossas famílias. Com o tempo, percebemos que não podíamos ter filhos, então,  não pensamos duas vezes e entramos com o processo. Pegamos nossa   menina com quatro meses, hoje ela tem um ano e estamos novamente na fila de adoção para dar um irmãozinho ou irmãzinha a ela. Ainda estamos pensando em relação à idade”, dizem os pais.

DE VOLTA
O Lar Nossa Senhora do Perpétuo Socorro recebe crianças que sofreram algum tipo de violação ou cuja família não pode mais protegê-las – situação em que há abandono, orgulho ou violência, por exemplo. “Compreendemos que a unidade de acolhimento não é obviamente o melhor lugar para essas crianças. Porém, faz-se necessário que exista”, diz Eudes Rocha, diretor do abrigo. “Esse serviço é provisório e quando a criança chega, todas as ações são feitas para que haja reintegração dela à família de origem ou a uma família substituta, no caso da adoção”, explica.

SERVIÇO
Para adotar, é preciso ir à Vara de Infância e Juventude do município e saber os documentos necessários. A idade mínima para se habilitar à adoção é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança acolhida. Também é preciso apresentar declaração médica de sanidade física e mental, certidões cível e criminal
 
*Colaborou Leonardo Queiroz

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