Nesta quarta-feira (19) o Brasil comemora o Dia dos Povos Indígenas, que, ao celebrar a diversidade dos primeiros habitantes do país, combate preconceitos e consolida seus direitos. Em Minas Gerais, sua maior nação indígena, o Povo Xakriabá, terá na Aldeia Brejo Mata Fome extensa programação para comemorar a data, especialmente rituais das 37 aldeias que compõem seu território de 54 mil hectares, na microrregião do Alto Médio São Francisco, distante aproximadamente 730 km de Belo Horizonte.
Na terça-feira (18), O NORTE conversou com o cacique Xakriabá, Domingos Nunes de Oliveira, para o qual “todo dia é na verdade dia de indígena, porque só assim manteremos viva e valorizada a cultura indígena”, lembrando que “povos de diferentes etnias têm que lutar todos os dias para preservar suas tradições e ampliar seus territórios”. Mais ainda, lembrou que o exercício do poder tem sido central para manter acessa a cultura de seu povo e que “apesar de ter a posse de mais de 54 mil hectares, o povo Xakriabá já ocupou no passado cerca de 200 mil hectares”.
Quando fala do poder político como oportunidade de garantir avanços, o cacique Xakriabá Domingos refere-se ao pioneirismo do saudoso cacique Manoel Gomes de Oliveira, conhecido como Rodrigão. É que a liderança, a quem coube substituir após a morte, em 25 de abril de 2003, exerceu por dois mandatos o cargo de vice-prefeito de São João das Missões, Norte de Minas. Na sequência, outros indígenas foram eleitos prefeitos. Na série de conquistas, ano passado a etnia participou ativamente da eleição à Câmara dos Deputados da primeira mulher indígena em Minas Gerais, a professora e ativista Célia Xakriabá (PSOL), doutoranda em Antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ele chama atenção para o fato dos indígenas que ocuparam a chefia do Executivo de São João das Missões, no Extremo Norte de Minas, terem em comum o fato de serem professores, a exemplo da deputada federal Célia Xakriabá. Isso mostra que a educação está sempre presente na vida da maior nação indígena de Minas, fruto de conquistas obtidas ao longo do tempo, como a construção de uma Casa de Cultura, três casas de artesanatos, 35 “Casas-Escola”, bem como três escolas bilíngue, erguidas em formato de palhoças pela Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais e planejada a partir dos desenhos e sugestões dos próprios indígenas e projetos elaborados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA) nas aldeias Brejo Mata Fome, Riacho dos Buritis e Barreiro Preto.
UM NOVO TEMPO
O cacique Xakriabá Domingos Nunes de Oliveira, explica com orgulho, que a participação dos indígenas nas diversas esferas do poder, como no Ministério dos Povos Indígenas e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas “representa um novo tempo, tempo de esperança para o Brasil, porque sofremos muito ao longo da história do país”.
Ele destaca que, “mesmo nos momentos mais difíceis, nunca faltou união dos povos indígenas, ou seja, nossa união sempre foi determinante para que fizéssemos grandes travessias, no estado, no Brasil, de modo que acredito que agora seremos mais fortes ainda”. Oliveira fez questão de ressaltar que a eleição da indígena Célia Xakriabá, da Aldeia Barreiro Preto, para a Câmara dos Deputados “foi uma vitória maiúscula não só para nossa gente, mas para Minas e para o Brasil”.
No seu modo de entender, o mandato de uma indígena Xakriabá “é importante porque, ao contrário de outros parlamentares, que têm que atender seus respectivos estados, representa indígenas de todo o país, ou seja, confere a ela uma responsabilidade muito grande e, ainda, o legado de mostrar ao Brasil e ao mundo que seu mandato pode ser instrumento de mudança”.