
Na última terça-feira (11), 40 servidores da Cemig de Montes Claros viajaram até Belo Horizonte de ônibus para participar de uma Audiência Pública que debateu as recentes medidas implementadas pelo órgão governamental referentes ao plano de saúde dos empregados.
“Desde quando essa gestão privatista chegou, eles não entram em acordo com a gente. Não há discussão, o que eles têm colocado são acordos de adesão e o trabalhador aceita ou fica sem”, afirma Renato Ferreira, Coordenador da Regional Norte do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG). O coordenador acrescenta que os trabalhadores não avançam em suas solicitações e estão perdendo direitos progressivamente.
O estopim para chegar à manifestação na Assembleia foi o aumento abusivo no plano de saúde dos servidores. “Chegamos a um ponto gravíssimo. Estamos falando de vidas. São 60 mil vidas, tem gente que depende desse plano de saúde todos os dias. Imagina aí pessoas que pagam R$ 700, ter que pagar quase R$ 3 mil. É impossível. Estão nos expulsando”, disse.
Conforme Renato, o lucro da Cemig, que tem um faturamento na casa dos R$ 40 bilhões, consegue sustentar a despesa com a saúde dos trabalhadores, estimada em menos de 1% desse valor. “A nossa saúde muitas vezes é afetada pelo próprio trabalho e pelo ambiente, que inclui situações de assédio moral, como vem ocorrendo agora”, destacou. Outra situação questionada pelo sindicato é o fim da contribuição patronal no custeio do plano de saúde.
Na audiência, o diretor do plano “Cemig Saúde”, Anderson Ferreira, argumentou que o reajuste do percentual de 60,5% sobre as mensalidades é necessário para equilibrar receitas e despesas e o impacto nas contas foi motivado principalmente pela assistência dada a pacientes oncológicos. “Quase 40% desse aumento é devido aos medicamentos, e 73% de medicamentos oncológicos, que teriam entrado para o rol de novas drogas, e a identificação de novas pessoas que infelizmente tiveram essa doença”, justificou. Anderson disse ainda que o custeio com exames teve aumentos em pelo menos 10%, o que justificaria a cobrança, que é igual ou menor do que é praticado no mercado do plano de saúde, cabendo à Cemig Saúde recompor o caixa.
Rebatendo a fala do diretor da operadora, o presidente da Associação dos Eletricitários Aposentados e Pensionistas da Cemig e Subsidiárias, Joaquim Chaves, destacou que grande parte dos inativos está adoecido e precisando do plano, após terem dado o seu sangue à empresa. “Com os novos valores, eles ficarão desassistidos no momento em que mais precisam”, denunciou.
O diretor-presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi, afirmou que várias tentativas de conciliação foram feitas no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), sem sucesso. Posteriormente, a discussão chegou ao Tribunal Superior do Trabalho (TST) e mais de um ano depois, não houve acordo para “equilibrar a capacidade de sustentabilidade da Cemig e a capacidade de continuar o programa de investimentos”.
Sobre a participação patronal para inativos, ele destacou que, em 2010, as despesas com pessoal ficavam em 4,65% e, em 2024, o valor passou para 17,6%, portanto, “esse passivo será corrigido”.
Depois de mais de cinco horas de discussão, a audiência, realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), foi encerrada com a promessa de uma reunião nesta quinta-feira (13), entre sindicato, diretoria da Cemig e parlamentares. No retorno a Montes Claros, Renato Ferreira, que coordenou o grupo, destacou que a sensação dos trabalhadores é a de que a manifestação, a segunda em menos de um mês, valeu a pena. “A nossa expectativa é de que, com a participação da assembleia, sejamos ouvidos, o que não estava acontecendo. Quanto ao fim da contribuição patronal, caso eles não revejam a decisão, entraremos com uma ação judicial porque isso não faz sentido. Infelizmente, o governador Romeu Zema, que era esperado pelos manifestantes, não esteve presente”, lamentou.
Além de Montes Claros, a audiência recebeu ônibus de diversas partes do Estado. A deputada Beatriz Cerqueira fez um pedido para que o ponto dos trabalhadores que participaram da audiência não seja cortado.
A equipe de reportagem buscou esclarecimentos junto à assessoria do Governo do Estado, contudo, até o encerramento desta edição, não obteve resposta. Procurada, a assessoria de comunicação da concessionária disse que “a Cemig não irá se manifestar sobre o assunto”.