
O produto que diariamente chega à mesa dos consumidores em todo o mundo, tem participação feminina desde o plantio, colheita, embalagem e venda. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU) a agricultura engloba cerca de 36% de mão de obra feminina, bem próximo do percentual masculino, que é de cerca de 38%. Entretanto, as mulheres estão mais expostas ao perigo da atividade laboral e ainda sofrem com a desigualdade salarial. É o que aponta relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Essa é uma realidade que não tem reflexos no Norte de Minas, região em que a agricultura e, principalmente, a agricultura familiar, é um setor importante da economia. José Arcanjo Marques, Gerente Regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater) em Montes Claros, destaca que é preciso observar as características de cada região.
“Nas proximidades da regional Montes Claros, que envolve 22 municípios, cerca de 43% dos projetos microcrédito e investimentos da Agricultura Familiar são feitos para mulheres. Elas representam 43% da captação de projetos de crédito rural. Quanto a remuneração, de 55% a 60% dos municípios remuneram de maneira igual, ou seja, mais da metade, porém, tem ainda um percentual de municípios que a remuneração para mulher pode ser um pouco inferior, em função da natureza do serviço”, explica.
Arcanjo pontua que o valor remunerado por dia de trabalho é em torno de 60 a 65 reais e chama atenção para um detalhe. “A fruticultura irrigada e a horticultura empregam mais mulheres e remuneram melhor porque elas têm maior habilidade para o trato mais fino, no caso de frutas delicadas. A mulher é mais detalhista neste trabalho. Em torno de 45% da mão de obra é feminina. Já na operação de máquinas pesadas ou na lida com animais, serviços mais brutos e pesados, ainda há uma ligeira predominância masculina. Este é o nosso cenário”, afirma.
Para a agricultora familiar, Patrícia Fuji, que embora casada, mas sem filhos, o trabalho exercido fora e dentro do lar e a remuneração dessas jornadas mostra que as mulheres ainda não são remuneradas de forma justa. “Na realidade acho que não é tanto o fato de ‘pagar menos’. Penso que nós acabamos ganhando menos por causa das jornadas duplas ou triplas, com isso o tempo dedicado a atividade é menor, comparado ao dos homens”, diz Patrícia, que trabalha com Hortifruti, especialmente folhosos e fruticultura.
Para José Avelino Pereira Neto, presidente do Sindicato Rural de MOC as mulheres sempre foram fundamentais para os negócios rurais e se a realidade hoje é mais equilibrada, ainda não é a ideal. “No entanto, somente nos últimos anos é que começamos a vislumbrar uma inclusão maior delas nos cargos de gestão dentro do agrone-gócio. Por ser um setor muito masculino, elas acabam tendo muitas dificuldades para ocupar essas posições de tomada de decisão e liderança, seja dentro da porteira ou junto a entidades de classe”, avalia.