A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) apresentou, na última quinta-feira (10), os resultados de uma operação que desmontou uma associação criminosa responsável por aplicar um golpe de quase R$ 1 milhão contra produtores rurais em Bocaiuva, no Norte de Minas. A investigação, iniciada a partir da denúncia de uma das vítimas, identificou que ao menos 15 criadores de gado e agricultores foram prejudicados. A ação foi deflagrada na terça-feira (8).
Durante a ação policial, foram apreendidas 67 cabeças de gado, maquinários agrícolas, anotações contábeis, cerca de 20 cheques sem fundo com valores que variavam entre R$ 5 mil e R$ 154 mil, além de dois veículos de luxo. Também foi determinado o bloqueio judicial de R$ 953 mil nas contas dos investigados. Um dos alvos acabou preso em flagrante por posse ilegal de munição.
Os investigados são três homens: um idoso de 81 anos, seu filho, de 54, e um terceiro comparsa, de 59 anos. Juntos, eles montaram uma estratégia para ganhar a confiança dos produtores locais, explorando relações comerciais legítimas para, depois, aplicar golpes utilizando cheques sem fundos.
Conforme o delegado Telles Bustorff, responsável pelo caso, o grupo passou a agir em Bocaiuva a partir de 2023, adquirindo uma fazenda na região. “Com a propriedade como fachada, iniciaram negociações com pecuaristas e agricultores, sempre apresentando boa aparência e honrando inicialmente os compromissos financeiros. Para fortalecer sua imagem, eles enganaram um produtor rural renomado na cidade — que acabou servindo, sem saber, como “fiador moral” para o trio”.
“Eles ganharam a confiança dessa vítima, que tinha muito prestígio entre os demais produtores. Usaram o nome dele como fiador para operações de compra e venda de gado, o que fez outros acreditarem na seriedade dos suspeitos”, explicou o delegado.
Após estabelecer uma rede de confiança, os três começaram a emitir cheques sem fundos para a aquisição de animais e produtos agrícolas. Ao todo, foram identificados pelo menos 20 cheques devolvidos, com valores que, somados, chegam a R$ 953 mil somente em Bocaiuva.
A investigação ainda apurou que, antes de atuar naquela cidade, o grupo já havia aplicado golpes semelhantes em Buritizeiro e Diamantina, resultando em prejuízos superiores a R$ 2 milhões para vítimas dessas regiões.
Ainda segundo o delegado Telles Bustorf, o esquema envolvia também a transferência do gado adquirido fraudulentamente para cidades vizinhas e outros estados. Animais comprados em Bocaiuva eram levados para São Francisco e, de lá, enviados para leilões em cidades como Uberlândia e São Paulo. O dinheiro arrecadado era, então, “lavado” por meio de uma loja pertencente ao terceiro integrante do grupo, localizada em Brasília de Minas.
O produtor rural enganado pelos criminosos, usado como fiador sem saber, também arcou com parte das dívidas para tentar preservar sua reputação na região. Segundo ele, foi somente ao perceber que o trio havia abandonado a fazenda e deixado para trás cerca de 220 cabeças de gado que suspeitou do golpe e procurou a Polícia Civil para registrar a denúncia.
“Quando os cheques começaram a ser devolvidos, as vítimas foram percebendo que havia algo errado. Os suspeitos perceberam que não conseguiriam mais sustentar a fraude e fugiram para São Francisco, deixando a propriedade adquirida apenas parcialmente paga e abandonada com os animais”, acrescentou o delegado.
O verdadeiro dono da fazenda também entrou na Justiça para reaver a posse da propriedade, já que os criminosos haviam quitado apenas uma entrada no valor da compra. Com a operação, a Polícia Civil espera recuperar parte dos prejuízos das vítimas, já que o bloqueio de contas e a apreensão dos bens podem ser revertidos em favor dos lesados. O inquérito segue em andamento para apurar se há outros envolvidos ou mais vítimas fora das cidades já identificadas.
“Nessa operação, a Delegacia de Investigações Especiais prestou apoio operacional à Delegacia de Bocaiuva para cumprir esses três mandados de busca e apreensão contra três alvos identificados. Conseguimos retomar o imóvel utilizado pelo grupo, arrecadar 67 cabeças de gado, além de documentos contábeis que demonstram toda a movimentação do gado naquela fazenda. Também ouvimos dois vaqueiros da região, que trouxeram informações relevantes e ajudaram a esclarecer a participação dos envolvidos nessa investigação”, completa o delegado Cézar Salgueiro.