Tiago Severino
Correspondente
PIRAPORA - As colônias de pesca de Pirapora, Ibiaí e Buritizeiro vão exigir na justiça uma indenização de R$ 12 milhões pela empresa Votorantim Metais S/A - da cidade de Três Marias -, para ressarcir as perdas provocadas pela mortandade de peixes que vem ocorrendo no Rio São Francisco desde outubro de 2004.
A medida foi aprovada por unanimidade em assembléia geral realizada em Pirapora no último dia 29. O dinheiro será dividido entre os 1,2 mil pescadores das três colônias, o que totaliza uma indenização de R$ 10 mil para cada um. Em 2005, a empresa foi multada pelo ministério público estadual em R$ 1,1 milhão, após o laudo que detectou que os peixes morreram em decorrência da presença de metais pesados nas vísceras e brânquias.
US$ 3,2 BILHÕES
A Votorantim Metais é integrante do grupo controlado pelo empresário Antônio Ermírio de Morais, 174º lugar na lista da revista Forbes, que indica os mais ricos do mundo. A fortuna dele é estimada em 3,2 bilhões de dólares. Sob o comando da Votorantim estão 30 mil funcionários em todo o Brasil.
A empresa está na cidade de Três Marias desde 1969. Ela gera 960 empregos diretos e 3 mil indiretos. A renda média para os empregados é de R$ 1,5 mil. A participação na economia local colocou o município em quarto lugar no estado em arrecadação de impostos, o equivalente a R$ 60 milhões.
- Enquanto alguns se beneficiam, os pescadores da região têm vivido de bicos que realizam para sustentar a família - indigna-se o presidente da Colônia de pesca de Buritizeiro, Geraldo Reis da Costa.
MEDIDA DRÁSTICA
O motivo é o desaparecimento de peixes, em especial o surubim. Ele diz acreditar que, caso não seja tomada medida drástica para reduzir o impacto ambiental das indústrias situadas às margens do Velho Chico, não haverá pescado para as próximas gerações.
A preocupação de Geraldo é comprovada pela Federação de pescadores artesanais da região, que avalia como resultado da degradação ambiental, até setembro de 2005, a morte de 25 toneladas de mandi, dourado, matrichã, pirá, pacu, curimbatá, pacumã e corvina, por causa do despejo de zinco, cobre e cádmio no rio.
A Colônia de pesca de Pirapora afirma que, antes da mortandade, os pescadores conseguiam retirar dois salários com o trabalho diário de cinco horas. Hoje, mesmo com uma atividade de oito a dez horas, a renda não chega a um salário. O presidente da entidade, Pedro Melo, diz que os pescadores sofrem tanto pela redução no número de peixes, quanto pelo receio dos clientes, que estão evitando a compra do pescado da região, com medo de algum tipo de contaminação.
Os advogados André Pinelli e Charles David ressaltam que vão pedir também medidas para reparação dos danos ambientais causados pela Votorantim. De acordo com Charles, a empresa nega a contaminação para evitar ações judiciais. Mas ele diz que já está comprovada, através de laudos e análises, a responsabilidade da indústria.