Polícia Civil desarticula organização criminosa que atuava em Francisco Sá
(leo queiroz)
Um esquema criminoso foi desarticulado pela Polícia Civil na Penitenciária de Segurança Máxima de Francisco Sá, no Norte de Minas, após dois anos de investigação. A Operação Trojan, realizada nesta quarta-feira, prendeu 14 pessoas – cinco policiais penais, uma advogada, três detentos, quatro parentes de presos e um comerciante de Francisco Sá.
Durante a ação, foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão e o bloqueio de 16 contas bancárias relacionadas ao grupo criminoso. Os envolvidos são suspeitos de corrupção ativa, passiva, prevaricação e lavagem de dinheiro.
Segundo a Polícia Civil, a organização atuava dentro e fora dos presídios com o objetivo de facilitar fugas e entradas de objetos ilícitos, bem como fornecer informações privilegiadas aos detentos.
A investigação começou em setembro de 2019, após ocorrer a fuga de três presos na penitenciária e a Polícia Civil obter informações de que a entrada de aparelhos celulares estava sendo facilitada.
Os detentos conseguiram fugir após serrarem as grades que davam acesso ao pátio de banho de sol e usaram uma tereza (corda feita com lençol) para escapar.
“Foi uma fuga completamente anormal, ficou notória a participação de servidores. Durante o trabalho, conseguimos identificar que alguns agentes forneceram serras e teriam recebido essas encomendas pessoalmente e também por meio de Sedex. Eles articulavam a data da entrega exatamente no dia em que estavam de serviço, para facilitar a entrega e daí tentar a fuga”, afirma o delegado Alberto Tenório.
Durante as investigações, foram apreendidos cem aparelhos telefônicos na penitenciária e a Polícia Civil analisou mais de 100 mil ligações, feitas de dentro da unidade prisional.
Isso levou aos autores e integrantes da organização criminosa. Durante as investigações, o Setor de Inteligência das polícias Civil e Penal teve acesso a um bilhete onde havia um número de conta bancária dentro de uma das celas. Com a quebra de sigilo, foi identificada uma movimentação financeira de R$ 102 mil. Essa conta estava sendo utilizada para recebimento de vantagens dessa organização criminosa.
ESQUEMA
A transação entre os detentos e os policiais penais era articulada por dois presos que faziam faxina dentro da penitenciária. Além disso, uma advogada fazia o intercâmbio entre os clientes e os policiais penais, oferecendo vantagens indevidas em troca da entrada de celulares e informações que facilitariam fugas.
Os aparelhos entravam na unidade prisional por meio de Sedex, arremessados de fora da penitenciária, e pelos próprios agentes penitenciários que entravam com esses telefones como se fossem deles e depois repassavam para os faxineiros.
Todos vão responder por organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva e prevaricação. O inquérito tramita na Delegacia de Operações Especiais em Montes Claros e tem um prazo de dez dias para ser concluído.
Combate à corrupção
O diretor Regional de Polícia Penal, Antônio Costa, disse que qualquer ato ilícito cometido por servidores será punido no rigor da lei. “O Depen (Departamento Penitenciário) não compactua com práticas ilícitas e realiza trabalhos de forma integrada, através dos serviços de segurança pública, no combate à corrupção. O trabalho é contínuo e as forças de inteligência estão sempre trabalhando. É um trabalho conjunto com o setor de inteligência das polícias Penal e civil”, explica.