
Com quase 2.500 registros de picada de escorpião em 2021 e 2022, Montes Claros é o município mineiro com maior número de acidentes com o animal peçonhento. No ano passado, foram 2.126 ocorrências. Neste ano, já são 333, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES).
No entanto, o quadro pode ser ainda pior. Referência no atendimento a vítimas do aracnídeo no Norte de Minas, o Hospital Universitário Clemente de Faria (HU) tem números ainda mais assustadores.
De acordo com o Escritório da Qualidade do HU, o trimestre deste ano apresentou um aumento de 27,2% nos atendimentos desse tipo de situação – foram 673 contra 529 no mesmo período de 2021. A diferença estatística está no fato de que o hospital recebe também pacientes de outras cidades.
O Norte de Minas é uma região propícia à proliferação dos escorpiões por ser de clima quente. Além disso, eles gostam de locais escuros, como montes de pedras, de madeiras e entulhos.
Para evitar escorpiões em casa, o médico Carlos Lopo, do HU, diz que é necessário manter limpo o imóvel por e por fora. “Devemos manter sempre limpos a casa e o entorno dela, retirando o mato e o lixo e evitando deixar coisas acumuladas e paradas”, ensina. É preciso ainda, de acordo com o médico, afastar baratas e outros insetos que possam servir de alimentos para o escorpião.
FRENTE A FRENTE
É preciso ficar alerta caso encontre o peçonhento em casa, filhote ou adulto. “A reprodução do escorpião não necessita do macho e fêmea, ela pode ocorrer por partenogênese (óvulos se desenvolvem diretamente em embriões, sem serem fecundados por um macho). Então, se a gente encontrar um que seja, pode ter certeza que existe uma ninhada nas proximidades”, alerta Carlos Lopo.
A engenheira civil Giselle Ferrante Veloso sabe como é a desagradável a experiência de se deparar com um escorpião. O animal estava dentro de casa e a picou no dedo do pé. “Fui ao HU depois de 40 minutos. Chegando lá, fiz a ficha e, como não sou de risco, esperei por quatro horas até ser levada para tomar uma injeção no local para aliviar a dor. Esperei mais duas horas, completando as seis horas de observação. Como não tive nenhuma reação ao veneno, fui mandada para casa. Senti dor até no outro dia”, lembra.
PRIMEIROS SOCORROS
O soro, nem sempre, precisa ser administrado em quem foi picado pelo aracnídeo. Segundo o médico do Samu MacroNorte Wille Dingsor, ele é aplicado em quem apresenta complicações. “Só é necessário utilizar o soro se o veneno estiver agindo, por isto, é restrito a casos graves. Se não estiver agindo, basta o bloqueador local”, explica.
Em caso de alguém ser picado por escorpião, os primeiros cuidados devem ser realizar a limpeza do local e procurar atendimento médico em local de referência, o mais rápido possível, em até uma hora, alerta Carlos Lopo. “É aquele momento que a gente consegue fazer o antídoto e não deixar nenhuma sequela”.
A atenção deve ser redobrada com crianças e idosos. “No caso de criança, a massa corpórea dela é menor, então, o veneno, que em um adulto causaria somente dor, para ela pode ter consequências mais graves”, diz o médico.
No caso do idoso, ressalta Lopo, além do metabolismo dele estar alterado, na maioria das vezes tem outros problemas de saúde, como diabetes, pressão alta, que podem atrapalhar.
O Centro de Controle de Zoonoses foi procurado, mas não quis falar sobre o assunto.