Excelência sertaneja

Grão Mogol se firma como novo polo de vinhos premiados no Brasil

Larissa Durães*
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 30/04/2025 às 19:00.
Ao pé da Cordilheira do Espinhaço, no Norte de Minas, Grão Mogol desafia as previsões mais pessimistas com relação à produção de frutas de clima temperado na região classificada como semiárida (Diego Vargas/SEAPA)
Ao pé da Cordilheira do Espinhaço, no Norte de Minas, Grão Mogol desafia as previsões mais pessimistas com relação à produção de frutas de clima temperado na região classificada como semiárida (Diego Vargas/SEAPA)

No semiárido de Minas Gerais, Grão Mogol surpreende ao produzir vinhos finos aclamados nacionalmente. A vinícola Vale do Gongo, aproveitando o clima de contrastes da Cordilheira do Espinhaço, ganhou a Grande Medalha de Ouro no Concurso Nacional de Vinhos de Mesa em Bento Gonçalves–RS, sendo a primeira do Norte de Minas a alcançar tal reconhecimento.

Fundada em 2017 pelos irmãos Alexandre e Gésio Damasceno e pelo empresário Guilherme Saege, a vinícola começou com somente 46 mudas e hoje colhe os frutos de um projeto ousado: são cerca de 60 toneladas de uvas anualmente e 15 mil litros de vinho produzidos — “Comprovamos o potencial do terroir do sertão mineiro”, comemora Alexandre.

“A videira gosta de clima seco, amplitude térmica e solo pobre. Grão Mogol tem tudo isso”, afirma Alexandre Damasceno, um dos fundadores da vinícola. Ele explica que a escassez de chuvas, em vez de um problema, é uma aliada. “Com irrigação e adubação de precisão, o clima seco ajuda a controlar doenças fúngicas e a concentrar os açúcares da fruta, fundamentais para o processo de fermentação”.

O sucesso, no entanto, foi construído em meio a diversos desafios. “Não havia referências técnicas para a região. Tivemos que aprender sobre variedades, podas e principalmente o controle de pragas como o míldio”, lembra o produtor. Um dos diferenciais foi o investimento na capacitação do enólogo Alexandre Damasceno e em tecnologia de produção, com barricas de madeira e maquinário especializado.

A parceria com instituições como a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) foi essencial para a consolidação do projeto. “No início, aprendemos com lives da Epamig. Hoje, participamos de pesquisas com professores da Unimontes e técnicos da Epamig para entender melhor o comportamento da Merlot em nossa região”, explica Alexandre.

Segundo a pesquisadora Renata Vieira da Mota, da Epamig, “o produtor estudou o material técnico disponível, participou de webinários e buscou orientação por e-mail. Eles impressionaram pelo vigor das plantas e pela produtividade da cultivar Merlot”.

O trabalho conjunto resultou em uma pesquisa de doutorado que avalia três tipos de manejo da poda na variedade Merlot: a tradicional de verão, a de inverno com dupla poda e a tropical com duas colheitas por ano. “Os resultados ainda serão publicados, mas a produtividade já atinge média de 4 quilos por planta, o que é muito expressivo”, afirma Renata. Um novo projeto, focado na irrigação e nutrição para a colheita de inverno, também foi submetido pela Epamig, visando ao manejo sustentável em regiões com déficit hídrico.

Atualmente, a vinícola oferece nove estilos de vinhos, incluindo espumantes, brancos, rosês, tintos jovens, tintos de guarda e até vinhos licorosos, inspirados na tradição portuguesa. “Além das uvas brasileiras Vitória e Lorena, cultivamos as francesas Syrah e Merlot e a italiana Sangiovese. E estamos testando as variedades Chardonnay e Malbec”, revela Alexandre.

O impacto vai além do vinho: o enoturismo transforma a economia local. “O turismo cresceu mais de 300%. Nos dias de visitação, hotéis e restaurantes lotam”, conta o produtor. Os visitantes aproveitam não só a vinícola, mas também o centro histórico, igrejas centenárias, trilhas na Cordilheira do Espinhaço e o presépio natural Mãos de Deus, o maior do mundo em seu estilo.

A servidora pública Lenisia de Fátima Barbosa do Amaral é uma das visitantes encantadas pela experiência. “Os vinhos são maravilhosos, encorpados. O Casa Velha, de sabor acentuado, me surpreendeu muito”, conta. Com vasta experiência em degustações pelo mundo, ela compara os vinhos da Vale do Gongo aos melhores rótulos do Sul do Brasil. “Foi uma linda experiência. A Casa Velha é cheia de relíquias, comida excelente e vinhos incríveis. Quero voltar.”

Para ela, a produção de vinhos de qualidade em regiões como o Norte de Minas é totalmente possível quando há investimento, conhecimento e condições naturais adequadas. “A região em geral não favorece, mas com clima propício e dedicação técnica, o potencial é enorme”, conclui. 
 
*Com informações da Agência Minas

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