
O Brasil possui 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer. Somente de 2020 para cá, 14 milhões de brasileiros entraram nessa estatística. O país retornou a um patamar equivalente à década de 1990. É o que mostra o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.
Há pouco mais de um ano, 19 milhões de brasileiros não tinham o que comer, representando um retrocesso aos patamares de 2004. Atualmente, apenas quatro a cada dez famílias conseguem acesso “pleno à alimentação”. Ou seja, mais da metade (58,7%) da população tem algum grau de insegurança alimentar.
Em números absolutos, 125,2 milhões de pessoas não sabiam se teriam algo para comer. É um aumento de 7,2% nos dados de 2020 e de 60% em comparação com 2018.
O levantamento foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Pessan), que consultou 12.745 domicílios de 577 municípios, dos 26 estados e do Distrito Federal.
Segundo a instituição, a falta de políticas públicas de combate à pobreza e à miséria explica os números atuais. O problema foi ampliado, ainda de acordo com a Rede, com a chegada da Covid, que aumentou o desamparo e sofrimento dessas famílias.
Uma das mineiras a viver o drama de ficar com a barriga vazia é a dona de casa Maria de Fátima, de 41 anos. Moradora do bairro Aparecida, em Belo Horizonte, ela chefia uma família de 20 pessoas. Filhas, genros e netos vivem no mesmo imóvel, erguido às margens da avenida Antônio Carlos.
“Eu trabalhava fazendo faxina. Mas desde o início da pandemia não tem mais. Recebo um auxílio da prefeitura, que não é muita coisa, e só. As doações acabaram. Acho que tá difícil até para quem doava pra mim”, acredita.
A demanda crescente por comida está pressionando as organizações que trabalham para matar a fome da população. “A pesquisa só veio reforçar aquilo que a gente já está percebendo há muito tempo. Somos conhecidos por ajudar moradores de favelas, mas estamos atendendo pessoas de outras áreas, como ribeirinhas, quilombos e de bairros tradicionais, que em tese não deveriam passar por isso. A demanda cresceu assustadoramente, a gente não está dando conta”, diz Francis Henrique, presidente da Central Única de Favelas em Minas Gerais (Cufa-MG).
NAS RUAS
Se a situação está ruim para quem tem casa, ficou ainda pior para quem vive nas ruas. “Por não ter moradia fixa, viajo de carona pelo Brasil inteiro. A situação é a mesma. Senti fome em São Paulo, senti fome no Paraná, senti em Belém e estou sentindo fome aqui”, conta André Luiz Pereira, de 37 anos, que mora atualmente em uma barraca na Região Central de BH.
A Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de BH afirmou, em nota, que distribuiu em 2021 quase 490 mil refeições gratuitas à população em situação de rua, nos restaurantes populares. Para as famílias carentes, a subsecretaria ressalta que beneficiou 275 mil residências com cestas básicas até novembro de 2021. Desde então, essas famílias estão recebendo o Auxílio Belo Horizonte de até R$ 1.200. (Colaborou Hermano Chiodi)