Tiago Severino
Correspondente
BURITIZEIRO - Joaquim Cândido Alves Moreira, filho do prefeito de Buritizeiro (Francisco Alves Moreira - Chico Gameleira), foi preso terça-feira, 21, pela polícia federal. A suspeita é de que ele utiliza trabalho escravo em uma fazenda no município de Santa Fé.
A prisão aconteceu no período da manhã, de acordo com mandado expedido pela juíza Rosana Silqueira Paixão, da comarca de São Romão. A PF levou Joaquim Gameleira, como é conhecido, algemado para a central em Montes Claros, onde prestou depoimento.
- A covardia dele é bárbara – disse a delegada Josélia Braga da Cruz, coordenadora da operação. Segundo ela, se no período do império o coronel tinha que comprar um escravo, hoje, Joaquim fazia diferente: ele simplesmente se apossava da vida das pessoas. Josélia ressalta a maneira agressiva com que ele lidava com aqueles que lhe prestavam algum tipo de serviço.
A delegada contou um caso que teria ocorrido na fazenda. Segundo ela, certa vez, por motivo desconhecido, Joaquim teria pegado um de seus trabalhadores e soltado na Bahia. O homem andou quase dois meses, a pé, até retornar ao estado. Josélia informou que a PF investiga Joaquim há dois anos.
GAMELEIRA NA LISTA SUJA
Ainda segundo a PF, em 2004, 15 trabalhadores foram mantidos como escravos por Joaquim, que teve o nome incluído no cadastro que identifica produtores e empresas acusados de manter trabalhadores em regime de escravidão. O banco de dados é uma determinação da portaria 540/2004 do ministério do Trabalho e Emprego e é conhecido popularmente como A lista suja. Durante dois anos, os infratores são observados. Caso não cometam novamente o crime e paguem todas as dívidas com a previdência, o nome é retirado da relação.
Durante esse período na lista suja, o infrator fica proibido de adquirir qualquer benefício público, por exemplo, empréstimos em bancos oficiais. Além da atividade de fazendeiro, Joaquim desempenha a função de assessor estratégico de Planejamento na prefeitura de Buritizeiro, que é comandada pelo pai.
Segundo dados do ministério do Trabalho, 18 mil pessoas foram libertadas no Brasil de 1995 a 2005. O trabalho escravo é possibilitado pela quantidade de mão de obra não qualificada disponível e a confiança dos infratores na impunidade. Em geral, aqueles que comentem esse tipo de ato utilizam a violência, maus tratos, submetem os trabalhadores a condições subumanas de vida, sem direito a remuneração, a atendimento médico ou equipamento de proteção na execução da atividade.
A principal forma de trabalho escravista é a peonagem. Neste caso, enquanto está na fazenda, o empregado tem como único fornecedor de alimentos e abrigo o patrão. Em contrapartida, ele é forçado a pagar por esses serviços e saldar uma dívida infindável, que se acumula durante todo o resto da vida.