
O reajuste no preço da gasolina, do diesel e do gás, em vigor desde o último dia 10, foi a 13ª alta desde janeiro de 2021 e um baque também no segmento de autoescolas. O abastecimento dos veículos representa mais da metade dos custos do negócio.
A Associação Mineira de Proteção aos Centros de Formação de Condutores (AMPCFC) engloba 618 empresas do ramo e aponta perda de lucratividade, demissões, queda na procura pela retirada da habilitação e venda de patrimônio das empresas para pagamento de dívidas. Por conta disso, o segmento já estima a necessidade de aumentar em, no mínimo, 10% o preço do treinamento para garantir da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em Minas.
Segundo Daniela Corgozinho, presidente da AMPCFC, a disparada dos aumentos da gasolina fez com que as autoescolas perdessem, em média, 30% de rentabilidade. “Os aumentos são tão frequentes que, quando a pessoa vem se habilitar, fecha um pacote com todos os valores e o preço é estipulado com o valor do combustível naquele momento. Quando o aluno vai para as aulas de condução, já tivemos um prejuízo grande”, afirma.
Outro ponto que tem afetado o segmento é que, como o custo para retirada da CNH para categoria B é alto – em média R$ 1.800, quase 1,5 salário mínimo vigente –, as altas afastaram os interessados em adquirir a licença. “A maioria dos nossos clientes é formada por pessoas das classes C e D que, às vezes, estão tirando a carteira para se inserir no mercado de trabalho, mas com os preços, o cidadão adia o sonho de tirar a carteira”, diz.
De acordo com Daniela, os gastos com combustíveis variam de acordo com a quantidade de carros e alunos, mas os custos com gasolina representam mais de 60% das despesas de uma autoescola. Além disso, os impostos do setor subiram cerca de 20%. “Pelo menos 30 auto escolas associadas venderam ônibus, automóveis e motocicletas devido ao endividamento com as altas de combustíveis. Muitos empresários estão dando baixa e abrindo novas empresas com estrutura mínima com dois veículos”, afirma a dirigente.
SE REINVENTANDO
Eduardo Ferraz Veloso, diretor da auto-escola Ativa, em Montes Claros, diz que a alta dos custos operacionais não se limite aos reajustes nos preços dos combustíveis, mas também os gastos com a manutenção dos veículos, falta de peças para reposição em carros danificados, preço de unidades zero KM
“Os preços têm majorado e é natural. Ficamos inseguros em fechar negócio com o cliente porque o combustível está em um preço e você não sabe qual preço vai estar na próxima semana e é preciso entregar aquele serviço que foi contratado. Os preços podem subir de uma forma assustadora e comprometer a entrega final desse serviço onde o mercado em geral está inseguro”, diz o empresário.
Para Eduardo Veloso, a situação afeta o interesse e a condição para novos candidatos à CNH. “Os valores começam a se sobrepor à real condição que ele estava preparado para disponibilizar para esse sonho, que é um dos documentos mais importantes e necessários para qualquer cidadão hoje”.
No mercado desde 2004, a autoescola Ativa atende em média 2 mil pessoas por ano com duas sedes em Montes Claros, uma em Claro dos Poções e outra em Coração de Jesus.
“Fizemos muitas mudanças, reduzindo custo de todas as maneiras que se pudesse fazer e se reinventando. Buscando dinâmicas para que se possa baixar esse custo e que isso não reflita de forma integral dos valores que são repassados para os clientes porque senão vai ficando inviável, o cliente vai sumir e as empresas acabam perdendo seu ponto de equilíbrio”, finaliza
SAIBA MAIS
De acordo com a 12ª edição da Pesquisa de Impacto da Pandemia nos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, os gastos com combustíveis, junto a insumos e mercadorias, foram citados como os que mais impactam os negócios por 63% dos microempreendedores individuais (MEI) e por 61% das micro e pequenas empresas, caso das maiorias das autoescolas. Somado esse custo às despesas com gás e energia elétrica, eles sobem para 76% (entre os MEI) e 77% para as MPE.
O analista de Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae, Weniston Ricardo, avalia que é hora de parar e analisar esse impacto da alta dos combustíveis nos negócios. “Principalmente aqueles empreendedores e empresas em que o custo dos combustíveis compõem parte significativa do custo de seus produtos e serviços”, declarou.
(*) Com Léo Queiroz.