(reprodução redes sociais REVOLTA – Vídeo da reunião do prefeito mostra aglomeração de pessoas sem má)
Sem nenhum caso confirmado de coronavírus em Januária, o município autorizou a abertura gradativa de algumas categorias do comércio local. Além dos empreendimentos considerados essenciais, como supermercados, a prefeitura permitiu o funcionamento de lojas de roupas, sapatos, eletrodomésticos e salões de beleza. Porém, a população tem questionado o decreto municipal, principalmente depois que o próprio prefeito descumpriu as regras de isolamento.
Restaurantes, bares e lanchonetes permanecem fechados sob o argumento de serem setores que favorecem a aglomeração. No entanto, os comerciantes januarenses ficaram indignados depois que o prefeito, Marcelo Félix, realizou uma reunião política em local fechado com a presença de, pelo menos, 30 pessoas.
Na cidade, comerciantes que desobedeceram o decreto foram multados. A punição varia de R$ 50 a R$ 600 e o empresário ainda está sujeito a perder o alvará de funcionamento. Mas, as regras valem só para alguns? É o que a comunidade tem questionado desde a semana passada, quando aconteceu a reunião do prefeito.
O vídeo do encontro do líder do Executivo municipal foi divulgado nas redes sociais. Nas imagens é possível ver o local com pessoas aglomeradas e Marcelo Félix abraçando o público, muitos sem máscara de proteção contra o coronavírus.
“É injusto! Enquanto o comerciante luta para manter seu negócio funcionando e seguindo as medidas de proteção indicadas pela OMS, o prefeito não dá exemplo e faz reunião para promover a reeleição dele. Já que multou o pessoal, também deveria multar o prefeito e vereadores que estavam com ele”, afirma Ney Oliveira, servidor público.
O último decreto expedido pela Prefeitura de Januária, em 12 de maio, não permite aglomeração com mais de três pessoas e fica proibido encontros, capacitações, reuniões que demandem a presença de mais de dez pessoas, “cuidando sempre de priorizar a realização dos eventos inadiáveis em local com ventilação adequada e capaz de comportar um distanciamento”.
Os donos dos restaurantes entrevistados para esta reportagem pediram para que não fossem identificados, com medo de represálias. Um deles foi multado em R$ 600, outros em R$ 150 e um mototaxista foi punido em R$ 600.
“Entendemos que é preciso haver restrições no funcionamento, mas não é justo deixar nosso empreendimento fechado e outros abertos. Não vemos fiscalização dentro dos supermercados, por exemplo, que sempre estão lotados. O município permitiu a venda de marmitas, porém nosso público é da zona rural que vem até a cidade resolver alguma coisa. Eles comem na rua, debaixo do sol quente. É humilhante”, pontua um dos proprietários.
O outro diz que foi multado em R$600 por receber clientes. “Qual tem maior prioridade, salão de beleza ou restaurante? Meus clientes são de ‘passagem’, como caminhoneiros e vendedores. É preciso regularizar esse decreto para o setor alimentício”, destaca o empresário, que conseguiu reduzir a multa para R$ 100, devido a crise financeira.
O mototaxista conta que foi punido por transportar passageiro. O decreto anterior permitia o transporte apenas de produtos delivery. “Para eu faturar esse valor tenho que trabalhar mais de uma semana. Fui à Justiça e reduziram para R$ 500 ou então terei que fazer serviços comunitários. Meu advogado está recorrendo da decisão”, diz.
O prefeito Marcelo Félix foi procurado para falar sobre o assunto, mas não deu retorno até o fechamento desta edição.