Mais veranico, menos chuva

Quadro climático irregular nos últimos anos provoca perdas na lavoura do Norte de Minas

Christine Antonini
Publicado em 06/04/2019 às 06:01.Atualizado em 05/09/2021 às 18:07.
 (IFNMG/DIVULGAÇÃO)
(IFNMG/DIVULGAÇÃO)

Uma estação seca e outra de águas. Era assim que os produtores se orientavam para plantar no Norte de Minas. Mas a mudança desse quadro climático nos últimos anos tem inviabilizado esse tipo de previsão e provocado grandes perdas na lavoura e sacrifícios na criação do gado.

Os seis meses de chuva e seis de seca se transformaram em quatro meses de precipitação concentrada e longos períodos de “veranico”. O resultado disso, segundo o engenheiro agrícola e ambiental Gildarly Costa da Cruz, é uma mudança drástica na rotina do lavrador e muito prejuízo na agricultura e pecuária.

Gildarly é um dos autores da pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG que revela que 78 municípios da região decretaram calamidade hídrica nos últimos sete anos.

Uma delas é Januária, que mesmo sendo banhada por rios como o São Francisco, Pandeiros e Peruaçu, sofre com a queda do nível desses cursos d’água em função da irregularidade das chuvas na região. Sem contar com a ação humana –destruição da mata ciliar, assoreamento e poluição.

O secretário de Agricultura de Januária, Antônio Cunha, aponta que pelo menos dez povoados da zona rural estão sendo abastecidos com caminhão-pipa, mas a água que chega dá somente para manter as famílias.

A pesquisa da UFMG mostra que de 2012 a 2018 o semiárido norte-mineiro passou por período de seca duradouro, com precipitações abaixo das médias históricas. Denominado “A seca no cotidiano: estudo dos efeitos da estiagem sobre famílias de comunidades rurais de Januária, Minas Gerais”, o estudo focou em duas comunidades rurais localizadas no Vale do Rio Peruaçu, afluente da margem esquerda do São Francisco – Araçá e Onça, ambas em território januarense.

Desde 2012, foram registradas em Januária médias anuais baixas de precipitação, especialmente na zona rural. A última seca considerada violenta sofrida na cidade havia sido em 1998.

“A irregularidade das precipitações, que cada vez mais se concentraram em poucos dias de poucos meses do ano, afetaram diretamente a vida dos lavradores, pois estes dividiam o ano em duas estações claramente definidas, “seca” e “águas”, com seis meses cada. Agora, não podem fazer essa previsão”, pontua o pesquisador Gildarly Cruz, que também é mestre em sociedade ambiente e território.

Uma vereda localizada em Buritizinho secou em 2015. Ela era abastecida pelo rio do Vale do Peruaçu. A bacia do rio Pandeiros, por exemplo, não suporta mais manter o abastecimento de diversas veredas e cursos d’água que secaram ou estão praticamente secos.
 
SOLUÇÃO
Para suprir as perdas devido à falta de chuva, serão necessários 20 anos com períodos chuvosos regulares, dentro da época certa, afirma o pesquisador. Gildarly ressalta que a implantação de políticas e programas públicos que incentivem a convivência com o ambiente mas, principalmente, que abram espaço para participação da população na implementação e gestão destas ações, pode ser uma solução para o problema.

Gildarly acredita que em relação à produção de alimentos e à formação de lavouras será possível uma recuperação. Mas o “renascimento” das fontes que vieram a secar é um processo prolongado, que exige paciência e preservação ambiental.

Palma forrageira é opção de alimento para o gado
Uma solução de fácil acesso e de baixo custo para alimentar o gado durante o período de seca é a palma forrageira. Apesar de poder ser uma importante aliada dos criadores, ainda há preconceito na utilização da planta, segundo o analista de agronegócio do Sistema Faemg/Senar, Caio Coimbra.

Segundo ele, é preciso incentivar o cultivo da palma no semiárido mineiro e mudar a mentalidade dos produtores. Pensando nisso, o Sindicato Rural de Montes Claros promove na próxima terça-feira o “Dia de Campo”, que irá discutir sobre a palma forrageira no semiárido mineiro.

O objetivo é apresentar a planta aos produtores rurais. Desde 2017, Montes Claros participa do programa “Palmas para Minas”, que visa fomentar o uso da palma forrageira como alternativa de alimentação animal, com o propósito de reduzir os custos de produção – ou até mesmo viabilizar a pecuária – em regiões atingidas pela estiagem.

Durante o “Dia de Campo” será apresentado um panorama sobre bovinocultura dos criadores do Norte de Minas, sobre os diversos tipos de leguminosas, perenes e palma forrageira e como cultivar e manejar esses alimentos para os animais.

“Estamos prospectando uma máquina para plantio da palma, com foco no produtor de pequeno porte. Acreditamos que este pode ser um grande facilitador no processo do cultivo”, revela Caio Coimbra.

As entidades buscam, atualmente, uma forma de viabilizar o desenvolvimento, fabricação e distribuição da máquina.
 
DIA DE CAMPO
São em média 120 inscrições gratuitas para o evento, que começa às 8h e termina às 13h. Os cursos serão ministrados no Campo Experimental de Montes Claros, na Chácara Recanto dos Araçás – BR-251/SN. Mais informações pelo telefone (38) 3834-1760. (C.A.)

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