Médica trata pacientes na casa dela para evitar que eles sejam expostos ao coronavírus

Christine Antonini
O Norte
16/05/2020 às 03:24.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:31
 (arquivo pessoal)

(arquivo pessoal)

A pediatra Márcia Novais abriu as portas da casa dela, em Taiobeiras, para acolher duas crianças que precisam fazer um tratamento contínuo para mucopolissacaridose tipo 6 (MPS6). A iniciativa solidária foi feita para evitar que os dois pacientes, de Berizal, ficassem expostos ao risco de contaminação pelo coronavírus durante as idas obrigatórias ao hospital.

Tallyson, de 8 anos, e Vanessa, de 15, viajam semanalmente 70 quilômetros de Berizal para Taiobeiras, onde recebem o tratamento para evitar o avanço da doença, considerada uma das mais raras do mundo – a cada 50 mil pessoas, uma nasce com a enfermidade, que provoca displasia esquelética. Algumas das consequências são baixa estatura e doença articular degenerativa.

O tratamento agora está sendo feito na casa da pediatra responsável pelo caso deles. A decisão foi tomada pela médica, que conseguiu a autorização do hospital, e conta com a ajuda do enfermeiro Alex Ferreira. 

As duas crianças precisam, uma vez por semana, receber a infusão de enzima para evitar que a MPS6 avance, uma vez que a doença não tem cura.

Márcia e Alex cuidam das crianças há pelo menos sete anos. Devido à pandemia da Covid-19, ficaram receosos que os meninos pudessem se contaminar, uma vez que eles são do grupo de risco e possuem a imunidade baixa.

Com a permissão da direção do hospital, a médica montou toda a estrutura necessária na sala da casa dela para receber os dois pacientes, com bombas de oxigênio.

“A decisão de trazê-los para minha casa foi pensando na proteção deles, mesmo que aqui não tenha confirmado nenhum caso de Covid-19. Porém, por causa da pandemia, o hospital de Taiobeiras passou por uma reestruturação e teve que usar a salinha isolada, onde fazíamos o tratamento. Então, os meninos foram encaminhados para a ala da pediatria de internação, mas lá tem crianças com vários tipos de doença e pode ser perigoso. Não vendo outra saída, solicitei a direção para tratá-los em minha casa, que fica ao lado do hospital”, explica a pediatra.

Segundo Márcia, para fazer a infusão é preciso ter médico e enfermeiro presentes. Ela e Alex fizeram especializações para realizar o procedimento.

“Esse tratamento deve ser feito em ambiente hospitalar, pois eles (pacientes) podem sofrer algum tipo de reação alérgica à medicação. Adaptei minha sala com toda estrutura oferecida no hospital – bombas de oxigênio, o medicamento para a infusão e moro ao lado do hospital. Achei melhor protegê-los, pois são crianças de risco. Até para entubá-las, correm risco de vida. A doença deles afeta muito a articulação, que fica rígida e complica o processo. Já perdi uma criança uma vez devido a esse procedimento”, ressalta a médica.

O enfermeiro Alex Ferreira cuida das crianças desde que eram muito novas e criou um laço de amor e afeto pelos meninos. Ele conta que escolheu se dedicar a Tallyson e Vanessa, que são muito mais que pacientes. “O presidente da associação da MPS6 entrou em contato com a direção do hospital, informando que havia duas crianças na região com a doença. Assim, o diretor hospitalar convocou vários profissionais, inclusive a empresa que fornece a medicação, que realizou um treinamento especial para tratar esse tipo de doença. Aceitei a proposta de me especializar e logo comecei a ter laços de afeto e afinidade com eles”, ressalta o enfermeiro, que lembra da morte da irmã de Vanessa, que tinha a mesma doença.
 
ACONCHEGO
Márcia não só transformou a sala em uma ala para tratamento da MPS6, como também oferece uma estrutura aconchegante para que os meninos se sintam mais à vontade. Durante o procedimento, as duas crianças assistem televisão, colorem livros e comem um delicioso lanche.

“É incrível o amor que eles têm com nossos filhos. Só tenho que agradecer a Deus. Tallyson conta os dias para chegar a data do tratamento. Acorda ansioso, doido pra ir na casa da doutora. A Márcia ainda mima eles, com café da manhã, almoço e a tarde faz um bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Nossos filhos estão protegidos, graças a eles”, conta Maria Aparecida Silva, mãe de Tallyson.


 

“Tallyson conta os dias para chegar a data do tratamento. Acorda ansioso, doido pra ir na casa da doutora. A Márcia ainda mima eles, com café da manhã, almoço e a tarde faz um bolo de cenoura com cobertura de chocolate”ãe de Tallyson
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