
Caminhoneiros que atuam no Norte de Minas estão coletando assinaturas em vários postos de combustíveis do Estado para tentar reverter o valor do pedágio que começa a ser cobrado em seis praças na BR-135, entre Montes Claros e Belo Horizonte, na segunda-feira. A tarifa é considerada muito alta e há o temor de que o impacto seja pesado em toda a economia da região. Em uma manifestação programada para hoje – em local e hora não divulgados –, a categoria ameaça parar o trânsito na rodovia.
O valor do pedágio varia de R$ 3,60 (motos) a R$ 43,20 (caminhões e ônibus de seis eixos), com carros de passeio tendo que desembolsar R$ 7,20 em cada parada. Como O NORTE mostrou na edição de 19 de março, para ir e voltar à capital mineira de automóvel, o montes-clarense gastará R$ 72 só com o pedágio da BR-135, fora os R$ 10,60 da tarifa na BR-040.
Amparados pela Associação dos Motoristas e Autônomos do Brasil (Amab), com sede em Montes Claros, os profissionais entendem que os valores são abusivos, podendo causar impacto diretamente aos consumidores, tendo em vista a possibilidade de repasse da despesa no final da linha. Na região, o movimento é apoiado pelo Grupo de Elite de Transportes. O abaixo-assinado será usado para uma ação no Ministério Público pedindo revisão do contrato de concessão da rodovia.
Membro da Amab, o motorista Milton Antônio Librelon, de 56 anos, 38 dos quais rodando pelas estradas brasileiras, disse que “a tarifa vai ferir de morte o transporte de cargas do Norte de Minas”. Na avaliação do caminhoneiro, Montes Claros será o município mais atingido, por ser o segundo entroncamento rodoviário do Brasil.
Ele explica que a associação, além de se posicionar contra os valores abusivos do pedágio, terá muita serventia a partir de abril. Isso porque, para evitar um colapso no sistema de transporte, os caminhoneiros terão acesso, via entidade, às grandes indústrias, porque o mercado hoje está cobrando pessoas jurídicas. “Para evitar que todo autônomo monte uma empresa, eles poderão usar nosso CNPJ, porque, com os valores do pedágio, ninguém ficará de pé”, avalia Milton.
Nas contas da associação, um caminhão de nove eixos, por exemplo, que transporta cimento de Sete Lagoas para Montes Claros, vai gastar mais com pedágio do que com óleo diesel. “Os caminhões que puxam combustível na base de Betim vão gastar R$ 10.600 por semana, ou seja, com esse valor você financia um caminhão zero”.
Na avaliação de Milton Librelon, com o início da cobrança do pedágio, a tendência é a de que o número de veículos passando por Montes Claros caia significativamente. “Vai arrasar a economia, fechar postos de combustíveis, lojas de peças, restaurantes”, acredita.
MANIFESTAÇÃO
Um protesto está previsto para hoje para chamar a atenção do governo para a questão da 135 e outros problemas enfrentados pelos caminhoneiros. “A princípio, faremos neste sábado apenas uma manifestação para chamar a atenção do governo. Mas como o movimento tem adquirido maiores proporções, pode redundar em uma paralisação”, afirma Walter Lúcio de Paula, dirigente da Amab.
Com 34 anos de profissão, Walter adiantou que e, em 99% dos casos, os valores dos fretes não chegam aos autônomos, situação agravada pelas constantes altas no óleo diesel. O abaixo-assinado, segundo ele, será objeto de uma ação contra a concessionária para questionar os valores do pedágio. “Vamos acionar o Ministério Público de Minas Gerais e o Ministério Público Federal para que averiguem o contrato de concessão”, afirma.
MUDANÇA DE ROTA
Muitos caminhoneiros de Montes Claros, segundo os profissionais, vão acabar desistindo de fazer a rota pela BR-135. Alguns já confirmaram que preferem pegar cargas em Mato Grosso. Walmir Pereira Gomes, de 51 anos, disse que trabalhar no Norte de Minas vai ficar inviável. “Para eu ir e voltar a Belo Horizonte, só com a Eco-135, gastarei mais de R$ 500. Seis pedágios em 300 km não existe em nenhum lugar do Brasil, uma ladroagem”, reclama.
Vinícius Ribeiro da Silva, há 15 anos nas estradas, disse ser favorável ao movimento contra o pedágio. “Tenho um caminhão de seis eixos e faço a rota até a capital mineira duas vezes por semana. Brasileiro não deveria pagar pedágios porque já temos uma grande carga de impostos, ou seja, deveríamos ter estradas em ótimas condições”.
AUDITORIA
Na Assembleia Legislativa, deputados da Bancada do Norte se movimentam para tentar uma revisão do contrato de concessão. O deputado estadual Arlen Santiago (PTB) solicitou aos ministérios Públicos Federal e Estadual uma auditoria na planilha de custos da ECO 135 para verificar a necessidade de se manter o valor estipulado para a tarifa na rodovia.
A assessoria de comunicação da concessionária informou, por meio de nota, que “a Eco135 está cumprindo rigorosamente o contrato de concessão firmado com o Estado de Minas Gerais, através da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, realizando a recuperação da rodovia e a prestação de serviços adequados aos usuários”.