Cerrado raro e ameaçado

Parque Nacional das Sempre-Vivas abriga variadas espécies de cactáceas que levaram à criação de um plano nacional de proteção dessas plantas

Manoel Freitas - Enviado especial
06/06/2019 às 09:23.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:59
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Repleto de espécies endêmicas, algumas delas consideradas raras, o Parque Nacional das Sempre-Vivas é um tesouro em território mineiro que requer toda atenção e proteção dos órgãos ambientais para preservar as preciosidades que abriga.

Na terceira matéria da série Natureza Plena, em que O NORTE retrata o trabalho realizado durante uma semana de jornada pela área de conservação de 124.154,47 hectares nos municípios de Diamantina, Bocaiuva, Buenópolis e Olhos D’Água, os cactos são as estrelas.

Com nomes complicados e visual exótico, alguns deles exigiram longas caminhadas dos pesquisadores para serem encontrados.

Foi o caso do Uebelmannia pectinifera. Trata-se de espécie de planta da família Cactaceae, endêmica no Brasil, com estado de conservação classificado como “em perigo”, ou seja, ameaçado por perda do habitat.
Foi como encontrar uma joia depois de várias horas escalando – primeiro a Serra do Urubu, e, enfim, a do Landim. Nesta foram registrados três indivíduos. A espécie, rara e conhecida como Cacto Parafuso, é comercializada na internet com preços que variam de R$ 70 a R$ 100, de acordo com a idade da planta.
 
PLANO NACIONAL
Esse tipo de comércio clandestino é o que coloca em ameaça a planta. Daí a grande importância do Plano de Ação Nacional para Conservação das Cactáceas, instituído pelo Ministério do Meio Ambiente para promover a conservação efetiva e reduzir o risco de extinção das espécies, pois o país abriga o terceiro centro de diversidade das cactáceas do mundo. São mais de 200 espécies, quase todas endêmicas.

Em quase toda sua extensão, especialmente nos afloramentos rochosos, o Parque Nacional das Sempre-Vivas apresenta inúmeras espécies de cactos que, por sua importância, constam do plano.

Para se ter uma noção do significado do parque, tanto para conservação das sempre-vivas – que dão nome à unidade de conservação – como para outras plantas, como as cactáceas, outro registro importante foi feito nas proximidades da sede, em terreno de areia quartzítica – o Discocactus placentiformis. De acordo com o Centro Nacional de Conservação da Flora, essa espécie é endêmica de Minas Gerais, dependente de habitat específico, e está em declínio na natureza porque “a maioria das subpopulações é pequena e isolada (Taylor; Zappi, 2004)”. 

Em termos de plasticidade, por reunir vários frutos em sua extremidade, O NORTE encontrou no Oeste do parque o Cipocereus minensis, subespécie leiocarpus, com tendência populacional “estável”, segundo a “Lista Vermelha”, criada em 1964 pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), na atualidade o maior catálogo sobre o estado de conservação de espécie de plantas, animais, fungos e protozoários de todo o planeta.

Na mesma área, registrou outra espécie de planta, a Palmeirinha Azul (Syagrus), ameaçada de extinção, segundo a pesquisadora Simone Nunes Fonseca, professora da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

O país abriga o terceiro centro de diversidade das cactáceas do mundo. São mais de 200 espécies, quase todas endêmicas.

Área no foco de intervenções
Mas não são apenas as cactáceas que compõem a beleza e a riqueza da flora do Parque Nacional das Sempre-Vivas. Aliás, diversidade é a marca da área de conservação, o que torna obrigatória a preservação desse espaço.

No ambiente das cactáceas, o registro científico de espécie de grande beleza, a Canela-de-Ema (Velloziaceae), a (Barbacenia sp.), com muitas flores e na superfície de campo rochoso, chama a atenção.

O colorido das flores contrasta com as formações rochosas características dessa área que, em face à rica biodiversidade, integra uma rede internacional de áreas protegidas, conhecidas como reservas da biosfera. Em 2005, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) criou a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, na qual a unidade de conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) está inserida.


O parque é reconhecido pelo organismo mundial como meio de implementação do programa O Homem e a Natureza (MAB). Nela estão presentes os biomas e ecossistemas Cerrado, Campos Rupestres, Mata Atlântica, Veredas, Capões de Mata e Campos Úmidos. Tão rico que, nem de longe, o banco de imagens gerado pela reportagem em sete dias de trabalho de campo, acompanhada por cientistas, é capaz de retratar.

Tudo isso tem mais valor ainda porque o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) reconhece as reservas da biosfera como um modelo de gestão integrada, em território mineiro, motivada também pela meta do Ministério do Meio Ambiente de proteger aproximadamente 10% das áreas originais de cada um desses biomas.

O objetivo é ampliar a proteção do Cerrado brasileiro, pois o Cerrado Maciço do Espinhaço já havia sido identificado como umas das áreas de alta prioridade para manejo e criação de unidades de conservação.


A prova disso é que o Parque Nacional das Sempre-Vivas desperta cada vez mais interesse na comunidade científica internacional, em busca de ampliar o conhecimento e conservação da área.

  

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